twitter

Marega X Gobineau, Chamberlain, Fischer e Günther

Art. 13º da Constituição, Princípio da igualdade: «… 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem…». Art. 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: «… raça…». Art. 16º/1 da DUDH: «… raça…». Art. 21º, Não discriminação, da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia: «… raça…». Art. 14° da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, Proibição de discriminação «… raça…». Art. 1º do Protocolo 12 da CEDH, Interdição geral de discriminação, «… raça…». Deveria ser etnia! Em 16/2/20, no Estádio D. Afonso Henriques, Guimarães, estava a decorrer um jogo de futebol de 11, entre o VitóriaSP e o FCPorto. Jogo importante uma vez que o FCPorto poderia ficar a somente 1 ponto do 1º. Segundo a comunicação social, o jogador Marega tinha sido já insultado durante o aquecimento. Insultos racistas, por parte de alguns adeptos. Os ataques subiram de tom depois de Marega ter marcado o 1-2 para o FCPorto. Em legítimo movimento de festejo, cerca dos 70m, apontou para a cor do seu braço. O árbitro mostrou-lhe um cartão amarelo. Os insultos continuaram e inclusive quase seria atingido com cadeiras. Foi então que Marega depois de pegar numa cadeira, como se fosse um capacete, decidiu que iria abandonar o jogo, como protesto, e contra tudo e todos. Um gesto de coragem que admiro, embora todos saibamos que os mais variados insultos são comuns nos campos de futebol. Sendo inclusive difícil o que de futuro irá justificar o abandono? A esmagadora maioria do Povo Português, incluindo o Presidente da República e Governo, condenaram o ataque abjecto racista contra Marega. Todavia uma das principais claques do Vitória acusou Marega de provocação. Recorde-se que Marega foi jogador do Vitória em 2016/17 emprestado pelo FCPorto, tendo feito 31 jogos e marcado 14 golos! No mínimo verificou-se profunda ingratidão! Estamos convictos todavia que o Povo Português não é racista. Lembre-se Éder ou Quaresma, Heróis nacionais. Diria até que os principais racistas mundiais, que infelizmente existem, achariam ridículos os poucos portugueses que se dizem racistas. O que não implica que não tenhamos que levar a sério a prevenção do racismo. Nomeadamente através de não desprezo do ensino do Direito Constitucional em todo o Ensino Superior – deveria ser obrigatório –, em especial no Politécnico, no qual essa falta é acentuada. Mas a ignorância dos intelectuais, mesmo anti-racistas, permanece. As teorias racistas – que dividem humanos como cães, adoradas também por Hitler – de Arthur de Gobineau (França, 14/7/1816-13/10/1882), Houston S. Chamberlain (Inglaterra, 9/9/1885-9/1/1927), genro de Richard Wagner e onde Hitler esteve no funeral, Eugen Fischer(Alemanha, 5/7/1874– 9/7/1967)e Hans F.K. Günther (Alemanha, 16/2/1891-25/9/1968), o professor catedrático especialista protegido de Hitler, que morreu «respeitado» e sossegado já velhinho, são várias. Casado com uma norueguesa, até ao fim «aconselhou os nórdicos a se casarem entre si». Günther dividiu a população europeia em «6 raças»: nórdica, phálica, de leste (alpina) e de oeste (mediterrânica), dinárica e do leste do Báltico. Em muitos dos seus escritos, «a raça phálica era considerada inferior». I.e., aos olhos dos racistas principais europeus, nós, portugueses, e judeus, seríamos «inferiores», incluindo os adeptos que difamaram Marega! O que, sabemos, é falso. É curioso aliás que germânicos e teutónicos tenham origem bárbara. A definição de «raça» foi muito usada pela propaganda Nazi. Mas, por curiosidade, talvez para agradar a Mussolini e Franco, de acordo com as ideias oficiais nazis, a «raça ariana» tinha as seguintes sub-divisões: nórdica dolicocéfala loira, alpina braquicéfala loira e mediterrânica dolicocéfala morena. Ora, estas teorias e autores encerram tantas contradições dentro de si que facilmente seriam desmascaradas. Ora, aí está um trabalho sério para os meus colegas Antropólogos e afins. Obrigado S. Marega.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira
DM

DM

9 março 2020