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Mais sobre as próximas eleições

Talvez seja, da minha parte, um abuso à paciência do leitor, propor-lhe que dê uma vista de olhos a um artigo sobre o mesmo tema que o seu autor escreveu na semana passada. As próximas eleições do nosso país é, porém, um assunto tão importante para a vida de cada um de nós que me atrevi a insistir.

Não tenho um conhecimento muito profundo sobre o que dizem as últimas sondagens. É evidente que estas não são uma espécie de adivinho mágico que, a priori, nos revele o que vai acontecer. Recordemos as surpresas – infelizes para os socialistas - com as perdas, entre outras, das câmaras de Lisboa e Coimbra nas últimas eleições autárquicas. No entanto, é bom não as esquecer e de grande utilidade estudá-las. Da sua análise pode resultar, em muitos eleitores, uma mudança de planos do seu voto. Em não poucos, a confirmação da escolha que já fizera e, em tantos outros um convite para não pertencer ao núcleo dos absentistas, ou porque o seu partido está em perigo de baixar muito, ou porque necessita do seu voto para se posicionar bem nos resultados, etc., etc.

O importante é que não se encare o que vai ocorrer com ligeireza e egoísmo. Nomeadamente se estiver bom tempo soalheiro, apesar de não haver ainda as temperatura altas, uma passagem pela praia será deveras encantadora e relaxante. E o que dizer de gastar uma parte considerável do dia num restaurante com aqueles pitéus que fazem sonhar de noite quem tem insónias... Enfim, pode alguém cruzar os braços e dizer sem ter vergonha: “Sei lá em quem hei-de votar...?! Os políticos sabem falar bem, mas depois especializam-se em não fazer nada. Atiram as culpas da sua ineficácia às condições da economia em declive que nos caracteriza, à pandemia que só serve para dar dinheiro aos laboratórios e, enfim, aos antecessores que fizeram do poder uma fonte de enriquecimento pessoal e dos seus amigos ou companheiros de partido”. Tudo serve para não votar, embora, à noite, quando as diversas estações televisivas agendam uma programação sobre o acto eleitoral, estejam refastelados diante do écrã para saber, antes de qualquer amigo que sempre anda bem informado, como tudo decorreu e os resultados finais.

O último acto eleitoral, que deu continuidade ao pelouro do nosso actual Presidente da República, teve um número doentio de não votantes, talvez por se estar convicto antecipadamente que ele seria eleito sem problemas, ou não fosse apoiado pelas principais forças políticas portuguesas. Para quê, votar?, pensaram muitos... Que eu vá ou não vá não altera coisa nenhuma... E o resultado foi a vitória do partido dos abstencionistas com larga vantagem sobre aqueles que, num ou noutro candidato, tiveram o cuidado de deslocar-se à sua mesa de voto.

O sistema democrático não é um convite ao desleixo dos eleitores. Pelo contrário, supõe que cada um deles deve – com obrigação moral – deixar o seu parecer na urna que lhe compete. Pode manifestar a sua opinião das formas mais diversas. Em primeiro lugar, votando no candidato ou no partido que considera mais apto, conforme o teor das eleições. Mas não acabam aqui as suas possibilidades: pode votar em branco e pode deixar um voto nulo. No primeiro caso, confessa a sua dificuldade ou incapacidade por fazer uma escolha determinada bem consciente. Na segunda, manifesta o seu desacordo em relação às hipóteses de voto que lhe são propostas, ou, inclusivamente, ao sistema eleitoral.

Nas últimas eleições realizadas em Portugal, como atrás já assinalámos de forma menos concreta, dos mais de 9.000.000 de eleitores inscritos, não foi às urnas um número superior aos 6.000.000. Ou seja, à boa maneira lusitana, a maior parte dos votantes, perdoando a expressão, esteve-se “nas tintas” para dar a sua opinião de cidadão. É possível, porém, que ao conhecer os resultados, diga mal de todos e de tudo o que se passa em Portugal. E não repara que, com a sua abstenção, concorreu, de forma ostensiva, para que a situação que tanto critica se tornasse realidade. Ele é um dos muitos réus de que as coisas abomináveis sobre que anda a resmungar a cada momento sejam o retrato deste país onde ele vive. E, segundo o seu modo de agir, não há nada a fazer. Ou não é Portugal o país do fado, essa canção tão melancólica e pessimista?


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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18 janeiro 2022