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Mais que um Amigo (Em memória agradecida do Padre Sousa Fernandes)

Não falarei do académico da Universidade do Minho e da Universidade Católica, do cidadão profundamente empenhado em que a sociedade seja mais justa para com todos, do amante da música e do labor de ensaio dos coros de Sequeira, Porta Nova e Guadalupe; do colega sempre disposto a ajudar e a encontrar tempo para poder estar presente; do homem que enfrentou a doença com serenidade e muita paz, porque homem de Deus e conhecedor das limitações humanas. Queria apresentar algumas notas pessoais de uma amizade com mais de 50 anos, caldeada em lutas pela implementação do Vaticano II, em Braga, e mantida incólume ao longo dos anos, com uma estima recíproca, nas diversas actividades em que ambos nos inserimos como sacerdotes a trabalhar no arciprestado de Braga. Sucedi-lhe na Senhora-a-Branca, em 1978, quando foi para França trabalhar no doutoramento em educação na UM. Sempre mantivemos uma relação de estreita e profunda amizade, pelo que a Senhora-a-Branca foi sempre também a sua casa. Entre outras presenças, era sabida e notória a de segunda e terça-feira santas no Sagrado Lausperene. Pôde contar sempre comigo para o substituir na igreja do Guadalupe, quando necessário. O padre Sousa Fernandes, como se apresentava e como gostava que o tratassem, foi um sacerdote que soube cativar pelas palavras positivas, atractivas e de esperança que sabia dirigir, baseado na reflexão dos textos sagrados, que comentava em todas as eucaristias, quer dominicais e festivas, quer nas missas de semana. Isto há mais de 50 anos! A experiência de Lisboa ajudou muito nessa leitura dos sinais dos tempos, que tão bem soube interpretar. Sabia cativar, mesmo os indiferentes e os agnósticos ou que se dizem ateus. Do mais simples ao mais letrado e ilustre, a todos respondia com um sorriso aberto e franco, nunca deixando sem uma ajuda monetária quem o abordava para tal, mesmo que, por vezes, o fizessem exageradamente. Preferia ser 'levado' que deixar de ajudar. Era generoso com quem sabia que realmente precisava. A sua fé não era apenas racional e afectiva. Traduzia-se em obras de caridade concreta. Como diz o Papa Francisco: «entrava-lhe no bolso», porque partilhava de verdade com os mais necessitados. Termino, fazendo meus os pensamentos de um poema do condiscípulo muito amigo dele, Cónego Valdemar Gonçalves: ESPERO 'Caminho à luz da fé que me sossega E põe ordem nos passos que vou dando; Só a fé me alumia e nunca nega O aconchego por que vou esperando. Espero, apara além desta refrega, Desta vida agitada em que não mando, A luz da paz, que já até mim chega, Ouvindo a voz do Pai que vai chamando... É a voz do silêncio que me fala Quando ao redor de mim tudo se cala e a noite vem descendo devagar... Puxando o fio e apertando o laço Quero ir ter com Jesus num eterno abraço E então ressurgirei, vou acordar'.
Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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27 agosto 2019