No passado dia 10/11/2017, partiu o ímpar intelectual, escritor e cientista político brasileiro, latino-americano, Moniz Bandeira, de 81 anos de idade. Natural de Salvador da Bahia, acabou por se despedir em Heidelberg, Alemanha, onde era Cônsul Honorário do Brasil. Tendo sido tal facto notícia no Brasil e restante América Latina, para a qual propunha aliás uma espécie de utopia, como “Grande Pátria”. Também em Portugal, não o esqueceremos. Foi um corajoso opositor ao regime ditatorial brasileiro tendo sido inclusive preso político durante 2 anos. Publicou livros como “O ano vermelho-A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil” ou por ocasião dos 100 anos da chamada “Revolução Russa”, “Lenin-Vida e Obra”. Com problemas cardíacos, não resistiu infelizmente desta vez a uma infecção pulmonar. Deixa a sua mulher a alemã Margot Bender, bem como um filho comum, advogado e especialista em História chinesa, Egas Bender Moniz Bandeira. Mas quando parte um amigo, nasce uma amizade eterna. Luiz Moniz Bandeira, preocupado com a injustiça no mundo e muito amigo também da sua mulher e filho, bem como dos amigos, era um profundo crítico daquilo que se pode chamar, com todas as suas conhecidas consequências negativas mundiais, como “imperialismo norte-americano”. Publicou ainda obras da sua autoria de extrema relevância para a própria ciência política mundial, como a “A Segunda Guerra Fria” ou “A Desordem Mundial” (2016). Recebeu por diversas vezes condecorações da maior importância cultural, quer no Brasil, Argentina ou Alemanha, tendo se formado em Direito, mas logo foi parar aos estudos doutorais em Ciência Política. A importância dos seu pensamento fica igualmente bem patente quando em 2014 e 2015 foi indicado pela União Brasileira dos Escritores como candidato ao Prémio Nobel da Literatura. Moniz Bandeira foi um crítico frontal de algumas visíveis consequências catastróficas de determinadas intervenções diplomáticas e bélicas dos EUA pelo mundo afora, colocando em destaque as famosas invasões do Iraque, tendo a segunda das quais sacrificado algumas centenas de milhares de vidas inocentes colaterais para neutralizar supostas armas de destruição maciça que, afinal, entretanto reconhecidamente nem sequer existiam (!). Além disso, Moniz Bandeira também foi escritor e poeta com obra publicada. Autor controverso que habitava uma casa cheia de livros bem ali num dos principais centros intelectuais e científicos da Alemanha e do mundo, Heidelberg, Moniz Bandeira nunca hesitou em criticar, sem jamais descurar a sua pesquisametodológica, de modo a sustentar a sua fundamentação argumentativa, nomeadamente do ponto de vista científico e político. Descendente da aristocracia luso-brasileira, Moniz Bandeira privou com Che Guevara ou Fidel Castro e assistiu, p.e., o ex-Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Refugiado no passado nos EUA, promoveu contactos com os dirigentes da social-democracia europeia e da Internacional Socialista, incluindo Willy Brandt, François Mitterrand e o próprio Mário Soares. Foi professor e investigador universitário, quer em universidades brasileiras, quer em universidades alemãs. Além das obras já referidas, publicou inúmeras outras como por exemplo: “De Marti a Fidel: a revolução cubana e a América Latina”, 1998; “O Feudo-A Casa da Torre de Garcia d’Ávila (Da Conquista dos Sertões à Independência do Brasil)”, 2000; “Argentina e Estados Unidos: Conflito e Integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul)”, 2004; “As Relações Perigosas: Brasil-Estados Unidos (De Collor a Lula)”, 2004; “Formação do Império Americano (Da Guerra contra a Espanha à guerra no Iraque)”, 2005 – obra que levou, por sinal, a ganhar o Prémio Juca Pato e a ser eleito pela União Brasileira de Escritores como “Intelectual do Ano 2005”; não olvidando a “Fórmula para o Caos: a Derrubada de Salvador Allende”, 2008. Do seu legado, destacamos a coragem de dizer “Não!” perante a injustiça e a ditadura, de direita ou de esquerda, dizemos nós. Bem-haja a Moniz-Bandeira.
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira