No dia 11 deste mês de Fevereiro, a Igreja lembra a todos os fiéis, que Nossa Senhora, em Lourdes, no ano de 1858, apareceu a uma pastora, Bernardette, com a idade de catorze anos e analfabeta. Os seus pais eram bastante limitados quanto à fortuna com que se sustentavam a si e aos seus filhos. Tinham nove, dos quais a vidente era a mais velha.
Este facto ocorreu junto da pequena cidade de Lourdes, que, salvo erro, não contava na altura com mais de cinco mil habitantes Rapidamente, o acontecimento foi-se alargando como notícia, o que tornou difícil a vida pacata de Bernardette, assediada por muitos visitantes e também molestada com interrogatórios duros das autoridades, sobretudo civis.
Nossa Senhora foi aparecendo na gruta de Massabielle à pastorinha. E com um número cada vez maior, aí acorriam muitos curiosos e devotos. Também, com certa rapidez começaram a surgir milagres, o que trouxe ao local ainda mais visitantes.
Maria Santíssima, entre muitas outras lembranças que deixou a Bernardette, revelou-lhe que era a «Imaculada Conceição» (o dogma fora definido poucos anos antes pela Igreja) e recomendou-lhe que rezasse com generosidade pela conversão dos pecadores, além de pedir que aí fosse construída uma capela, que deu origem ao santuário hoje existente.
Bernardette aprendeu a ler e recolheu-se como “pensionista indigente” no Hospital das Irmãs da Caridade, a fim de que a sua vida não fosse assaltada com profunda insistência por pessoas que lhe pediam orações e, por vezes, a sujeitavam a prolongados interrogatórios sobre o modo como haviam ocorrido as aparições. Em 1867 fez a profissão de religiosa na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers e faleceu com 35 anos no ano de 1879. Foi canonizada em 1933.
Entre Lourdes e Fátima (as aparições nesta localidade do nosso país ocorrem em 1917) há uma proximidade e uma semelhança notáveis. É a Mãe de Deus que aparece a crianças simples e sem relevância social. No último caso, um pouco mais novas do que a vidente francesa. E lhes deixa um recado semelhante: pedir pela conversão dos pecadores.
Quando Jesus, na Cruz, pede a Nossa Senhora, através da pessoa de João Evangelista, que assuma a maternidade de todos os homens, sabe que a protecção de Maria Santíssima, que O educou e O viu crescer na companhia de S. José, tem uma importância relevante e eficaz para a salvação de todos nós.
Não é que Deus, omnipotente e omnisciente, não seja quem confere a felicidade eterna por Si mesmo. Só a Ele compete essa tarefa. No entanto, ao ser criador de todos nós, sabe que a existência de uma mãe comum – Maria é Mãe de Deus – une de um modo mais íntimo o ser humano a Si mesmo, facilitando as nossas relações e dando-lhe uma afinidade semelhante àquela que todos nós experimentámos no lar em que nascemos e nos tornámos seres adultos. A figura da mãe de uma família é sempre um ponto de convergência e de solicitude que aproxima os seus membros entre si de um modo irreverssível.
Por isso, Jesus, como último gesto de boa vontade e de carinho para connosco antes da sua morte real na Cruz, pede a sua Mãe que assuma a nossa maternidade. É um gesto de desprendimento (deixa de ser filho único da Virgem Santíssima) e, simultaneamente, de amor para connosco. Faz-nos, assim, compreender melhor que Maria, a partir, desse momento, concederá a cada ser humano o mesmo amor maternal com que O tratou. Todo o carinho que ela despende connosco é o da Mãe que quer o melhor futuro para o seu filho. E ela aí o aguarda, no Reino dos Céus.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva