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Lixo Pandémico

Já volveram quase dois anos desde que as nossas vidas passaram a girar essencial e especialmente em torno da pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 (Covid-19).

Número de infectados, número de vacinas administradas, número de recuperados, número de internados e, infelizmente, número-1482605886 de óbitos, são alguns dos dados com que, diariamente, a toda a hora, somos confrontados, numa espécie de carrossel estatístico levado à exaustão.

Ainda no âmbito deste contexto pandémico, outros tantos dados podem - e devem - ser analisados. Dados que evidenciam outro tipo de impactos, especialmente duradouros, numa época em que as alterações climáticas e a sustentabilidade do planeta estão, por razões óbvias, na ordem do dia.

Reporto-me aos assustadores dados alusivos ao denominado “lixo pandémico”.

Foi recentemente dado a conhecer um estudo promovido por investigadores da Universidade de Portsmouth, publicado na revista científica Nature Sustainability, onde se destacam dados avassaladores sobre o impacto de algumas medidas de contenção na propagação do referido vírus e, nomeadamente, sobre o seu errado descarte e o potencial desastre ambiental daí decorrente.

Em apenas 8 meses analisados (de março a outubro de 2020), o número de máscaras respiratórias atiradas para o chão aumentou 9.000%. Nesse período, e para o estudo em apreço, os investigadores afirmam ter recolhido mais de dois milhões de pedaços de lixo relacionando-o com as políticas públicas em resposta à Covid-19, desde os confinamentos, aos regulamentos de uso de máscara.

Não fosse a dimensão dos números, não seria propriamente uma novidade, na medida em que, acredito, todos nós já evitamos, nos sítios mais inóspitos, uma qualquer máscara cirúrgica (ou de outra tipologia) deixada ao abandono sem qualquer consciência de higiene, sentido de responsabilidade ou de bem comum.

Para acentuar este cenário, some-se a gigantesca quantidade de outros inúmeros dispositivos de protecção individual (v.g. luvas), de embalagens de álcool-gel, de testes rápidos de antigénio, entre outros, que necessitam de ser descartados e devidamente tratados.

Na prática, todo um manancial de equipamentos que, quando descartados incorrectamente, têm um impacto significativo no ambiente e representam um enorme perigo com reflexos a vários níveis, quer pelas matérias-primas com as quais são produzidos, nomeadamente plástico, quer pela possibilidade, muito real, de entrar na cadeia alimentar ou ainda pela possibilidade de serem engolidos por animais.

Ora, se neste contexto, o uso dos citados equipamentos de protecção individual e outros dispositivos médicos são obviamente desejados e até impostos por governos e respectivas autoridades sanitárias, não será despropositado reclamar-se a adopção de medidas específicas que visem limitar a sua prevalência no ambiente e que, ao mesmo tempo, contribuam para a boa utilização em todo o seu ciclo de vida, tais como campanhas de educação e sensibilização ou até que clarifiquem o obrigatório tratamento a aplicar a esses equipamentos no momento de os descartar.


Autor: Mário Peixoto
DM

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8 janeiro 2022