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“Linha” da verdade

Se o sr. Presidente da República, Marcelo R. de Sousa, o sr. Primeiro-ministro, António Costa, e os membros do seu Governo não assistiram ao programa “Linha de Frente”, que foi para o ar na noite de 08 de dezembro, último, aconselho-os que recuperam a peça. Porque, assim, ficarão a saber o que, verdadeiramente, se passou com o incêndio do verão passado na Serra da Estrela e pode ser que se cubram de vergonha. Sim, porque os populares que deram voz àquela obra jornalística não guincham, nem são nenhuns demagogos, ou populistas como gostam de apelidar quem lhes faz frente, mas de portugueses comuns e de alguns autarcas e Comandos de Bombeiros que, naquela reportagem, tiveram a coragem de dizer que o rei vai nu. Ora, apesar do esforço de quem entrevistou as gentes daquelas localidades serranas em fazer realçar as perdas, danos e medos sentidos durante o incêndio a sua linguagem era outra, bem mais clara e objetiva no que concerne às orientações dadas pela Proteção Civil (PC) a quem, de facto, combatia o fogo. Mormente, tecendo duras críticas àquela instituição que, segundo foi dito, mais se assemelha a um ‘centro de emprego’ da família Socialista, cujo acesso ao cargo apenas basta ter o cartão de militante e o canudo universitário, ainda que não perceba um chavelho de incêndios. Em que as pessoas quando interrogadas acerca do combate, nesses dias, disseram: “olhe, eram mais carros das Chefias da PC, a passarem para cima e para baixo, do que autotanques dos bombeiros”. Debalde o esforço de quem dirigia aquela reportagem, no sentido de encaminhar o assunto no sentido mais conveniente, os populares questionados continuaram a insistir na “linha” da verdade, dizendo: – “desses cerca de 1700 bombeiros apregoados pela PC, no início do fogo, não havia por aqui um único. Apenas nós, povo, sem meios de combate e muito menos de proteção procuramos, com a nossa coragem, mangueiras de rega e baldes, debelar muitas situações de iminente catástrofe e destruição de habitações, animais indefesos, alfaias agrícolas e a propagação a outras áreas. Também dos 14 meios aéreos anunciados, um apenas passou por cá duas vezes e às 16 horas abalou de vez limitando-se, impávidos e serenos, a deixarem tudo a arder”. Também em entrevista a alguns soldados da paz experientes e habituados a crises semelhantes – tendo omitido a identidade por receio de represálias –, afirmaram nunca terem visto semelhante incompetência das forças da PC em relação às ordens que lhes eram dadas no terreno. Contrárias ao que lhes dita a experiência de muitos anos de serviço, mas que os comandos da PC pura e simplesmente ignoraram. Tendo aqueles sábios combatentes, levado a equipa de reportagem aos locais onde o fogo deveria ter sido travado – devido à posição estratégica favorável ao ataque e aos ventos que nessa altura sopravam –, bem como a disposição certa dos homens no terreno com o mesmo fim. Mas não! Fizeram o contrário e foi a devastação que se viu. Afinal se dantes eram os bombeiros que entendiam do assunto, porquê agora ignorá-los? Já todos sabemos a verdade. É que para além dos pirómanos, há toda uma falange de gente a viver à custa das calamidades. E muita dela, nem um pequeno fogacho apaga, limitando-se a exibir, de quando em vez, fardas em ‘briefings’ de ‘lérias’ para a televisão, enquanto os eurinhos lhes vão caindo na conta todos os meses do ano. Já os nossos governantes, defensores do povo, no inverno deixam de pensar nos fogos e na seca; e no verão não querem saber das inundações, das suas causas e soluções. Daí, a falta de projetos na área da prevenção e ataque aos males que só um homem lúcido como foi o saudoso arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles preconizou, em particular, para a capital do reino, assente em 7 rios, algumas ribeiras e vários riachos. Muitos sorriam quando ele apontava os erros crassos e a falta de ordenamento no território, só porque era um monárquico convicto. E agora, não se riem? Feliz Ano Novo
Autor: Narciso Mendes
DM

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26 dezembro 2022