twitter

Lições do presépio

É no dia de Natal que devemos, com cuidado e atenção, olhar para o presépio que, certamente, fizemos em nossa casa, com a antecedência suficiente para darmos a alegria de comemorar o nascimento de Jesus. Este costume, tanto quanto se sabe, foi iniciado por S. Francisco de Assis. E, desde então, o povo cristão não deixou de ter essa atenção com o nosso Redentor, Jesus Cristo, Deus humanado e também com as pessoas que O acompanharam mais de perto, ou seja, com Nossa Senhora e S. José. Isto sem esquecer a presença dos pastores da região, avisados pelos anjos do céu e, mais tarde, com a chegada dos Magos do Oriente. Por vezes, estes enigmáticos personagens colocam-se, primeiro, longe da gruta e, a pouco e pouco, à medida que a sua festa litúrgica se aproxima, são deslocados, cada vez mais perto, do lugar em que o Senhor veio ao mundo. Um presépio é uma gruta, onde se acolhem os animais mais caseiros, como as ovelhas e também os bois e os burricos. Todos eles fazem parte desse espectáculo humilde, ainda que por nós abrilhantado com enfeites chamativos, que lhe dá a relevância devida. De facto, saber que, entre as figuras que expomos, uma delas, deitada sobre as palhinhas duma manjedoira, sob o olhar carinhoso de sua mãe e de S. José, está um bebé sem defesa, que não pode subsistir por si mesmo, que precisa, como qualquer ser humano, no início da sua vida, sobretudo dos cuidados maternais que o alimentam e lhe dão possibilidade de ir crescendo e, muito vagarosamente, chegar a ter alguma autonomia... Essa criança indefesa é Deus que vem ao nosso encontro, com a consciência de que assumir a natureza humana não é uma determinação indigna da sua parte. Pelo contrário, é um sinal da sua responsabilidade e do seu amor por nós. A razão que O leva a humanizar-Se é a de restituir a todo o homem a possibilidade de atingir o fim para que Ele o criou: a felicidade celestial. Com a desobediência de Adão e Eva, ela tornou-se-lhe impossível. E Jesus vem restituí-la. Começa a sua entrada na terra com uma recepção injuriosa: não nasce numa casa, por mais modesta que fosse, mas num estábulo. Passa por alto essa desconsideração. Tem de Se refugiar durante alguns anos no Egipto, porque um monarca sanguinário e feroz, O quer matar, Regressa à povoação dos seus pais, Nazaré. Aí cresce, educado por Maria e José. Passa despercebido. Vê, com pena, a morte do esposo de Maria. Fica a chefiar a casa humilde, ganhando com o seu trabalho de artesão o pão nosso de cada dia. Quando atinge a idade dos trinta, aproximadamente, começa a sua vida pública. São três anos de esforço contínuo por viver e pregar a caridade como principal virtude, que o homem deve assumir se quer ser verdadeiramente honrado, coerente com as suas possibilidades de praticar o bem e de tratar os outros com verdadeiro sentido de fraternidade. Acompanha a sua acção uma série de factos extraordinários, que espantam quem O segue e desconcerta com temor aqueles que temem perder influência com a acção de Jesus. Efectivamente, não é nada comum, que um homem seja capaz de curar doenças de modo instantâneo, e, muito menos, de ressuscitar quem morreu. Tudo isto leva a que haja gente que se entusiasme com a sua Pessoa, seguindo-A em todos os seus passos, mau grado algumas traições e fraqueza passageiras, como as de S. Pedro; e quem O queira fazer desaparecer de cena, da forma mais humilhante e cruel, a fim de que a sua fama se extinga e quem tem o poder de orientar religiosamente o povo não perca essa capacidade. Jesus sabe o que O espera. Não foge à responsabilidade que O trouxe à terra. E morre, entre dois malfeitores. Vem dar-nos a possibilidade de entrar no Reino dos Céus, que é o mais alto grau de felicidade que podemos atingir. Mas o homem não O aceita. Dá-lhe, para nascer, um estábulo e despede-O desta vida numa Cruz, fim dos ladrões e dos criminosos. Como é fácil entender que Jesus tenha escandalizado Pedro, dizendo-lhe que a bitola do perdão deve ascender a 70x7. Não pode haver maior prova de compreensão para com as nossas fraquezas. Elas não atemorizam o Senhor, porque o seu Amor por nós as tem em conta e convida-nos ao arrependimento.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

DM

26 dezembro 2022