Sem pretender ser exaustivo, e muito menos sem querer ofender seja quem for, decidi enumerar alguns dos que, em minha opinião, talvez possam ser os Lázaros de hoje, em relação aos quais andamos muitas vezes distraídos.
2. Entre muitos outros, poderão ser os Lázaros de hoje:
Os que estão impedidos de receber um gesto de carinho.
Os que só têm dinheiro.
Os que foram depositados num lar, de onde só saem para o cemitério.
Aqueles a quem só os cães fazem companhia.
Os que não têm quem os escute.
Os que se sentem traídos.
Os que se veem obrigados a praticar atos que a sua consciência reprova.
Os que estão proibidos de expressar os seus justos sentimentos.
Os que têm de sobreviver com pensões que não chegam a 400 euros por mês.
Os que têm de dizer amém com o chefe.
Os que se veem forçados a trabalhar num ambiente pidesco ou têm de suportar irrespiráveis ambientes de trabalho.
Os que a tudo se sujeitam para manterem determinada imagem e tudo sacrificam ao culto da personalidade.
Os que se colocaram em bicos de pés para aparecerem no jornal mas os fotógrafos não se aperceberam da sua presença.
Os casais jovens que, por motivos económicos, têm de permanecer em casa dos pais.
Os que se veem obrigados a ir para o estrangeiro porque no país de origem não encontram emprego.
As mães que passam grande parte da noite em claro, à espera de se aperceberem de que o filho notívago entrou em casa.
Os pais de filhos que enveredaram pela toxicodependência.
Os que tiveram de entrar em insolvência porque lhes não pagaram o que lhes deviam e devem.
Os que não sabem como passar o tempo.
Os que só sabem dizer mal.
As vítimas de falsos testemunhos e de campanhas de difamação e de calúnia.
As vítimas de decisões precipitadas, de prepotências, de mexericos e de intrigas.
Os filhos de casais desfeitos, que andam de um lado para o outro e se sentem instrumentalizados.
Os casais que, para salvarem as aparências, coexistem mas não convivem.
As crianças que adormecem sem um beijinho dos pais porque quase só os veem aos domingos ou feriados.
Os casais que o trabalho mantém separados mais do que o razoável.
As crianças que não podem brincar.
As vítimas de violência doméstica.
Os adolescentes molestados, na escola, pelo ridículo dos companheiros.
Os que passam dias e dias no hospital a ver as visitas do doente da cama do lado.
Os doentes que estão meses e meses à espera de uma intervenção cirúrgica.
Os que não viram reconhecido o seu mérito porque alguém menos habilitado meteu uma boa cunha.
Os que têm de enfrentar o rosto trombudo de quem só por obrigação lhes chega um copo de água.
Os doentes para quem não há lugar numa unidade de cuidados continuados.
As senhoras que se sentem mais usadas do que respeitadas e amadas.
Os que não dispõem de uma habitação condigna.
Os que não sabem gerir os poucos recursos que têm.
Aqueles que só por vergonha não pedem esmola.
3. Há um conjunto de situações, empobrecedoras de quem as vive, mesmo, às vezes, tendo abundância de pão.
No mundo egoísta em que vivemos há quem não tenha uma mão que se lhe estenda, um gesto de carinho que o conforte, uns ouvidos que o escutem, um sorriso que lhe ilumine o rosto, uma luminosa serenidade que desfaça a angústia em que vive.
A nível económico, há Lázaros a passarem necessidades porque pouco ou nada têm e Lázaros a viverem em sobressalto por terem dinheiro em excesso, mas carecerem de bens que o dinheiro não compra.
Autor: Silva Araújo