- Na era da conexão, tem sentido insistir na separação?
Se as pessoas estão cada vez mais conectadas, como entender que as instituições onde estão as pessoas sobrevivam separadas?
- A separação entre a Igreja e o Estado é tida como garantia de respeito pela autonomia de cada um.
Só que, não raramente, também é pretexto para tornar irrelevante o papel dos crentes na sociedade.
- O Estado é laico quando não interfere na religião. Mas torna-se laicista quando pretende controlar na religião.
A laicidade é isenta pois não tem uma opção religiosa. Já o laicismo não é imparcial porque assume uma posição irreligiosa.
- Num Estado laico, todas as religiões são acolhidas. Num Estado laicista, nenhuma religião é integrada.
Em Portugal, ninguém se declara laicista. E a Constituição da República nem sequer define o Estado como «laico».
- Ainda assim, não falta quem, em nome da laicidade, se aproxime do laicismo mais restritivo.
Será que a sobredita separação entre a Igreja e o Estado é incompatível com qualquer cooperação? Será que ela inviabiliza a presença do religioso no espaço público?
- Há, entretanto, quem comece a questionar este regime de separação.
Foi o que aconteceu numa recente – e corajosa – intervenção do Presidente da República da França. Este, sim, é um país que, na sua Constituição, se identifica como «laico».
- Não obstante, para Emmanuel Macron é tempo de repensar a separação e de repor os vínculos entre o Estado e a Igreja.
À laicidade não cabe «negar o espiritual em nome do temporal». Não pode promover «uma religião de Estado que substitua a transcendência divina por um credo republicano».
- Assim sendo, «a República não pede a ninguém que esqueça a sua fé». Pedirá até aos crentes que expressem publicamente o que dimana da sua fé.
Concretamente, aos católicos pede três dons: «o dom da sabedoria, o dom do compromisso e o dom da liberdade». E a primeira liberdade que a Igreja «pode oferecer é a liberdade de importunar».
- Todos os cidadãos «têm necessidade de uma outra perspectiva sobre o homem, além da perspectiva material. Precisam de matar uma outra sede: a sede de absoluto».
Macron compreendeu que, no fundo, os crentes também são «laicos» no sentido de que também pertencem ao «laos», ou seja, ao povo.
- No «laos» – isto é, no povo – tem de haver lugar para todos. E se nem todos são religiosos, todos estamos religados.
Quem não se sente religado a Deus não deixará de se sentir religado aos que crêem em Deus. Acolhê-los é um acto de justiça. E escutá-los será sempre um sinal de maturidade e lucidez!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira