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Juízos sobre a Igreja Católica

Uma atitude frequente dos que não são filhos da Igreja Católica é de julgar tudo o que a ela diz respeito duma forma implacável, dura e cheia de indignação. A Igreja surgiu aproximadamente há dois mil anos, atravessou muitas e variadas épocas históricas, e sobre estas, quando se trata de algum acontecimento relacionado com a sua vida, há um rigor de juízo muito superior aos que se fazem em relação a outras instituições, incluindo as de carácter religioso. Por exemplo, para alguns críticos, falar da Igreja é desembocar irremediavelmente na implacável Inquisição. Sobre ela se pintam os mais negros cenários, sem se ter em conta os períodos e as circunstâncias em que existiu esta instituição. Parece que a Igreja, ao nascer, já tinha a obsessão da tortura e das condenações virulentas à morte, como se os seus mártires – tantos e tantos milhares, muitíssimo mais numerosos do que os condenados por tal tribunal tão nefasto – fossem sacrificados no terrível suplício inquisitorial. Nem se dão ao trabalho de verificar que, contemporaneamente aos séculos em que vigorou efectivamente a Inquisição católica, este tipo de tribunal foi prática habitual entre outras confissões religiosas, como o luteranismo, o calvinismo e também a reforma da igreja britânica, promovida por Henrique VIII. Mais recentemente, nos nossos dias, apregoou-se e disseminou-se como um mal vulgarizado entre o clero católico o uso e abuso da pedofilia. Houve gente condenada, houve escândalos inevitáveis, mas todos recordamos a coragem e o sentido de reparação que as autoridades eclesiásticas tomaram, procurando que tudo ficasse esclarecido, julgado e, ao mesmo tempo, que se evitasse a todo o transe casos futuros. Digamos, a propósito, que este exagero e empolamento casuístico não deixou de chamar a atenção e o sentido de rigor crítico de observadores imparciais. Neste campo o relevo dado ao que se passou na Igreja Católica foi, novamente, mais rigoroso e mais badalado do que aquilo que se veio infelizmente a saber a respeito de acontecimentos ocorridos com pastores e dirigentes de outras confissões religiosas, que não suscitaram tanta apetência e preocupação dos “media” da altura. E isto para se não falar já das muitas arbitrariedades e abusos sexuais ocorridos com tropas de ONU em países conflituosos, sobretudo africanos, de que se fizeram eco algumas informações que vieram a público. É evidente que nem por um momento um bom filho da Igreja pode diminuir a importância de qualquer má conduta dum seu irmão na fé, nomeadamente se este, pela sua missão, tem obrigação de ser exemplar no comportamento, como é o caso dos sacerdotes. Nem sequer pode regozijar-se que entre pessoas que não pertencem à Igreja, embora tenham Cristo como ponto de referência fundamental da sua fé, apresentem uma folha de serviços pouco recomendável. O mesmo se diga para todas as situações de violência e desrespeito, como as que se referiram a propósito de militares sob a alçada da ONU. Os motivos desta descriminação de juízos também não os pode admitir, se eles falseiam as situações e os factos, ou por ignorância de quem os apresenta, ou por má vontade, ou por fanatismo, ou por falta de objectividade consciente e, talvez, não procurada. Mas, ao mesmo tempo, toda esta agressividade o deve levar a pensar que a Igreja tem um peso especial entre quem lhe é estranho. A sua história, a sua unidade, a sua universalidade, a diversidade de povos e culturas que a assimilam, as suas figuras mais conhecidas –. fundamentalmente, os seus santos e santas – são realidades que atraem e, quem sabe, remexem a consciência de quem sobre ela disserta. E a esta realidade deve associar outra: a sua responsabilidade de ser um filho da Igreja fiel e coerente, sabendo que um erro seu ganha uma evidência e uma importância que não teria se não fosse católico, porque dele se espera uma vida honrada e honesta, como exigem as suas convicções.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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12 novembro 2017