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«Jornalixo Desportivo a Céu Aberto»

Em Assembleia Geral do Sindicato de Jornalistas, a 4 de maio de 1993, foi aprovado o “Código Deontológico do Jornalista”, documento que parece estar atualizado e aceite por todos os seus profissionais. Esta orientação escrita, de referência superior para os jornalistas portugueses, “tem como objetivo estabelecer as regras e princípios pelos quais o jornalista se deve orientar no exercício da sua função”. Segundo publicações oficiais deste sindicato, refere-se neste contexto, que «incumbe, nomeadamente, ao jornalista relatar os factos com rigor e exatidão, combater a censura e o sensacionalismo, utilizar meios leais para obter informações, assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e atos profissionais, identificar corretamente as fontes, presumir a inocência dos arguidos até trânsito em julgado da sentença, não fazer qualquer discriminação em função de cor, raça, religião, nacionalidade ou sexo, respeitar a privacidade dos cidadãos, salvo quando esteja em causa interesse público, e recusar funções e tarefas suscetíveis de pôr em causa a sua independência e integridade profissional». Toda esta retórica parece muito bem, mas no que toca ao jornalismo praticado nos diários desportivos portugueses, nomeadamente esta última parte deste bonito Código, parece ser interpretada ao contrário. No passado dia 20 de novembro, um atleta jovem de futebol do FC Porto, filho do treinador, a quem lhe foi dada a oportunidade de marcar um penálti, apontou um golo num jogo da Taça de Portugal a uma equipa de escalão inferior. Na mesma competição, um outro, também ele jovem, mas atleta do SC Braga, marcou quatro a uma equipa do escalão principal. Os jornalistas desportivos responsáveis pelas primeiras páginas dos jornais impressos, deram o destaque principal de Capa, ao “menino” do FC Porto, enquanto o “rapazito” do SC Braga ficou-se ali por um roda- pé. A proporcionalidade e justiça da notícia é absolutamente ridícula, um insulto aos jornalistas que encaram a sua profissão de uma forma séria e honesta, enfim, de uma forma ética e deontológica. Um país que se quer há quase 50 anos, democrático e livre, solidário e desenvolvido, mas que não consegue mesmo lá chegar, e é da comunicação social, dita "independentemente", que vem sempre o pior exemplo. Quem tiver a oportunidade de olhar para o que deve orientar a profissão de um jornalista, tal como se pode confirmar no seu Código, ninguém deve «valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesse» pessoal. A expressão "trabalho para quem me paga!" é muito bonita e faz sentido, mas quando se trata de jornalismo, isto não é bem assim, a não ser que de facto se esteja a “financiar” jornalistas e jornais para se “passarem” as notícias que muito interessam a grupos que qualquer pessoa consegue identificar. A ERC, entidade Reguladora para a Comunicação Social, tem que atuar, pois no quadro das suas atribuições, entre outras questões, deve pugnar pela “salvaguarda do pluralismo e da diversidade”, deve ainda “zelar pela independência das entidades que prosseguem actividades de comunicação social perante os poderes político e económico”. Neste caso, assim como em outros, que estes jornais desportivos nos apresentam semanalmente, atingiu-se um nível de degradação inaceitável. Seria excelente que o regulador do setor, de forma séria fizessem o seu trabalho, de outra forma, este “Jornalixo” desportivo a céu aberto, com um cheiro que já não se aguenta há muito tempo, continuará a contribuir, em muito, para um País cada vez mais pobre e “embrutecido”!
Autor: Fernando Parente
DM

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26 novembro 2021