Foi até agora o único Presidente católico dos EUA. Há não muito tempo o destino levou-me a homenagear JFK, cujo corpo se encontra no cemitério de Arlington, Virgínia. Kennedy seria assassinado em 22/11/63 com 46 anos. Foi assassinado por cobardes contra um mundo que pretendia como mais justo e livre face também, mas não só, à ameaça ditatorial comunista vinda duma URSS ainda estalinista.
E com ambições globais que incluíram genocídios históricos em nome duma utopia travestida. Não conhecendo de modo prévio o local, fiquei sensibilizado com a sua campa rasa. Sim, a campa é rasa, pois também há Grandes humildes e dos canalhas não rezará a História. E como há tantos canalhas neste mundo, a nível mundial, mas também local… JFK repousa ao lado de Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis, bem como de dois dos seus pequeninos filhos abatidos pela tragédia.
Em 1956, depois dum aborto espontâneo no ano anterior, Jacqueline daria à luz uma filha já inesperadamente falecida a quem tinha sido dado o nome de Arabella Kennedy. Bem como no mesmo ano do assassinato, Agosto de 1963, morreria o recém-nascido Patrick Bouvier Kennedy. Mortes que foram uma espécie de estranho presságio. 4 vidas de profundo sofrimento que nos atiram com violência contra a condição humana. Todas em campa rasa.
Só nos tempos recentes foi acendida uma “chama eterna”… É o tudo ou nada. E o nada, como se vê todos os dias, está sempre mais perto, do que pensamos, do tudo. Um não existe sem o outro, num jogo contínuo entre inteligência e, na maioria dos casos, brutalizada estupidez. Os dois dançam juntos na tragédia e na comédia da vida.
Por ironia, JFK notabilizou-se quando era mais novo na II Grande Guerra ao liderar como comandante o barco PT-109 no Oceano Pacífico Sul. Numa das suas missões, o barco foi atingido por um destróier japonês, o que provocou a própria divisão do barco em dois e uma explosão.
Os sobreviventes nadaram até uma ilha próxima e foram todos mais tarde salvos. É deste heroísmo miraculoso que nasce a sua popularidade e lenda, a qual se acaba por transformar numa carreira política. Não foi nenhum santo, ao ter ajudado em 1963 o golpe militar no Iraque contra os então pró-soviéticos também prévios golpistas.
Foram cometidos vários assassinatos com a ajuda do então jovem Saddam Hussein. Igualmente foram muitos os seus amores extra-conjugais, uma força da natureza ao que se diz. Mas JFK sempre acreditou no mundo livre e nos direitos civis a nível interno. O democrata JFK apoiou de alma e coração o fim da discriminação racial prática nos EUA preconizada 100 anos antes pelo abolicionista da escravatura, o republicano Abraham Lincoln, também assassinado.
Em 26/6/63, realiza um célebre discurso na Berlim dividida: “Todos os homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim e, portanto, como um homem livre, eu me orgulho pelas palavras 'Ich bin ein Berliner'!” Junto à sua campa rasa está a sua frase: "E assim, meus compatriotas americanos, não perguntem o que seu país pode fazer por si, perguntem-se o que podem fazer pelo vosso país. Meus concidadãos do mundo, não perguntem o que a América pode fazer por si, mas o que juntos podemos fazer pela liberdade do homem". Foi JFK que criou o “Peace of Corps” para voluntários americanos ajudarem o mundo, sendo um póstumo homenageado “Pacem in Terris”, em honra da Encíclica de 1963, Papa João XXIII.
Mais tarde quando fui convidado a visitar a Casa Branca senti uma sensação inexplicável ao ver o retrato oficial do Presidente JFK. O mesmo está de braços cruzados olhando para o chão como com um ar triste e preocupado perante a impotência de mudar a própria humanidade… Foi a vontade expressa da sempre fiel Jacqueline perante o também seu Pintor e retratista Aaron Shikler. Mais tarde escolhido por Nancy Reagan. Ainda assim, senti a sua presença viva e uma profunda esperança: a alegria visível na foto tomou conta de mim vinda do NADA…
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira