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“JOGOS” COM FRONTEIRAS

Foi durante os anos 60, do séc. XX, aquando da debandada de muitos portugueses para outros países, que comecei a ter consciência do que é a emigração. Quantas vezes a salto, ou seja, iludindo a vigilância das fronteiras e na esperança de encontrarem uma vida melhor, cada um que partia levava consigo a indómita vontade de ganhar a vida e, sempre que de regresso a Portugal, mostrar algum resultado do seu esforço, sacrifícios e privações por que passava. Foram aventuras, que conheci de perto, mas que em muito pouco terão a ver com o que se passa hoje no mundo.

Com efeito, o panorama relativo aos milhares de migrantes a quererem chegar a outros países – mais abastados e pacíficos do que os seus – requer uma outra abordagem. Não partem das suas terras em pequenos grupos, ou isolados, como foi o caso português, mas aos milhares de uma só vez, inclusive famílias, embora imbuídos do mesmo propósito: o de conseguirem uma vida digna, em liberdade e democracia. Daí, serem os países-membros da Comunidade Europeia (CE) e os Estados Unidos da América (EUA) os que mais garantias lhes dão de tudo quanto mais anseiam: um lar, paz, educação, emprego e proteção social nos infortúnios da doença e desemprego.

Contudo, uma dúvida me assalta: de entre estes migrantes e refugiados, por que razão alguns deles não procuram rumar aos países ditos ‘comunistas’, como a China, Coreia do Norte, Cuba e outros que possam, ainda, existir? Não seria suposto serem eles – através do seu socialismo de partilha – a acolherem-nos? Então, por que não vemos os ideólogos de extrema-esquerda a aconselharem alguns deles a rumarem a tais paraísos?

Ora, se deste lado da Europa as pessoas em trânsito, provenientes das mais diversas paragens, para o continente europeu recebem algum auxílio e apoio, não vejo razões para o mesmo não acontecer a ‘leste’ do mesmo. Então, o drama exibido nos telejornais com imagens deprimentes e horrorosas vindas da fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, representam um verdadeiro crime contra a humanidade. Ali, à fome e à sede, à chuva e ao frio, de um inverno que por ali não é pera doce, crianças, mulheres e idosos vão sofrendo ao sabor da patifaria e da empurração das autoridades numa espécie de “jogos” com fronteiras, do século XXI.

Porém, tal sufoco não se tem verificado só na Europa. Também na fronteira entre os EUA e o México, vão afluindo milhares de migrantes, ciosos de acolhimento. Só que em vez de arame farpado, vão esbarrando no tão propalado muro de Trump. Afinal, pensou-se que a saída dele – da presidência dos EUA – o faria cair, mas, pelos vistos, continua de firme, hirto e em silêncio, até na comunicação social. Por que diabo escasseiam notícias sobre o que se passa de ambos os lados daquela muralha? Sendo caso para nos interrogarmos sobre qual será o motivo que leva o seu maior critico, o Presidente Joe Biden, a mantê-lo de pé? Tretas de político, é o que é! Porque, agora, parece que lhe dá jeito como tampão de entrada nos EUA.

Pouco me importa se houve quem tivesse desembolsado entre 3 e 15 mil euros para chegarem a tais países; se chegaram de avião, de barco, comboio, de táxi ou a pé; se entre eles há infiltrados com outros propósitos; se caíram nos esquemas montados pelos traficantes para efetuarem a viagem. O que está aqui em causa é o desespero e medo que a maioria sente em ser recambiado e ver os sonhos desfeitos, graças à insensibilidade de quem os não quer aceitar em seu território e a desumanidade com que são tratados como seres humanos e cidadãos do mundo.

Tudo isto, se passa num tempo em que tanto se legisla sobre a proteção máxima a dar aos animais irracionais; em que se exibem, como aviso, cenas de judeus no terror dos campos de concentração nazis, durante a 2º guerra mundial – em agonia e morte – e o que vemos? Pouco esforço diplomático no sentido de não voltarem a existir situações similares, o que só demonstra nada terem colhido da história.


Autor: Narciso Mendes
DM

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29 novembro 2021