Opresépio que este ano tem tido, talvez, maior repercussão mediática mostra Jesus e os seus pais, Maria e José, como se fossem uma das inúmeras famílias de imigrantes pobres que fogem da má sorte.
Os diários The New York Times (1) e The Washington Post (2) foram alguns dos inúmeros jornais que contribuíram para a ampla divulgação do presépio com imagens a representar o menino Jesus, Maria e José, cada um numa jaula de arame, como se se tratasse de uma família de refugiados separada ao transpor a fronteira dos Estados Unidos da América.
O jornal The Washington Post informou que o presépio apresentado pela Igreja Metodista Unida de Claremont, uma congregação suburbana do leste de Los Angeles, Califórnia, tem suscitado o entusiamo de uns e a irritação de outros. O modo de encarar esta inserção da história bíblica da família de Jesus fugindo para o Egipto no contexto das controversas políticas de imigração dos Estados Unidos da América depende do posicionamento político de cada um. Ao contrário do que se julgaria ser o mais óbvio entre os cristãos: adoptar atitudes sociais e políticas em função da fé que se professa; é a ideologia política que dita como se deve configurar a religião.
Seja como for, a pastora Karen Clark Ristine, citada pelo jornal da capital dos Estados Unidos da América, considera que o presépio não é uma declaração política; o que se pretende é olhar para os requerentes de asilo e para o modo como estão a ser recebidos e tratados “e sugerir que pode haver uma maneira mais compassiva de mostrar o amor de Deus”. Considerando que “um presépio é o equivalente teológico da arte pública”, e que “o papel da arte pública é o de consciencializar”, Karen Clark Ristine refere que Jesus nos ensinou “a bondade, a misericórdia e o acolhimento radical de todas as pessoas”.
A pastora da Igreja Metodista explicou numa rede social que o que o presépio pretende interrogar é o que, no presente, sucederia a Jesus, a Maria e a José: “E se essa família procurasse refúgio no nosso país hoje? Imagine que, na fronteira, José e Maria se separavam de Jesus, que, com dois anos, seria colocado atrás de grades num centro de detenção do controlo fronteiriço”.
The Washington Post recorda o que alguns estudiosos têm vindo a afirmar: o primeiro presépio, criado por S. Francisco de Assis no século XIII, era, ele próprio, uma declaração política, porque o santo de Assis pretendeu chamar a atenção para o sofrimento dos pobres.
Uma mensagem contra a exclusão e a marginalização encontra-se também na Carta Apostólica Admirabile Signum que o PapaFrancisco escreveu “sobre o significado e valor do presépio”. No texto divulgado no início do mês em Gréccio, a terra em que S. Francisco concretizou o desejo de representar o nascimento de Jesus, afirma o Santo Padre: “No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus, ‘manso e humilde de coração’ (Mt 11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade. Como pano de fundo, aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio. Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado”. Feliz Natal.
(1) Jose A. Del Real e Adeel Hassan – “Church’s Nativity Scene Puts Jesus, Mary and Joseph in Cages”. 9 de Dezembro de 2019
(2) Kimberly Winston– “Church nativity displays Jesus, Mary and Joseph in cages, separated at the border”. 9 de Dezembro de 2019
Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
Jesus na fronteira
DM
22 dezembro 2019