Em publicações anteriores aqui temos chamado a atenção para o assassinato de jornalistas e outros colaboradores incluindo companheiros articulistas de opinião um pouco por todo o mundo. Nomeadamente, 3/1/16: “2222+2015=110”; 30/12/16: “2222+2016=57-58, 74 ou 113?”. Estamos cada vez mais convictos que os verdadeiros Direitos e Deveres Humanos estão intrinsecamente relacionados com a Liberdade de Expressão e, portanto, com o Direito à Honra.
Ou seja, tornar ilícito e até criminalizar a confecção e profusão de notícias falsas não viola o art. 18º da “Constituição da República Portuguesa” e a teoria da necessidade, adequação, proporcionalidade e respeito da intervenção mínima por parte do “Estado de Direito social democrático, livre e verdadeiro”.
Uma utopia? Um não-lugar grego? Não, um lugar bem real que demonstra bem que o diálogo contínuo entre religião e ciência é sempre possível. E como nos ensinou Edmund Husserl, não há ciências mais exactas do que as ciências humanas.
Que nos interessa uma matemática não humanista? Pobre da contabilidade e fiscalidade ou gestão ou juristas sem ética! Que estúpido que é o positivismo não garantístico humanista. Não esquecendo que a economia é uma ciência social. Que interessa o objectivo do lucro pelo lucro, salvo uma satisfação vazia de conteúdo e cheia de injustiça? E que, por isso mesmo, tantas vezes surge aliado ao profundo problema da corrupção ampla.
Jamal Khashoggi entrou no Consulado da Arábia Saudita em Istambul em 2/10/2018, mas nunca mais chegou a sair. Incrível! Como referiu o Presidente Donald Trump, no seu estilo “o mais ou menos de sempre”, “foi a pior operação encoberta (de serviços secretos) de sempre”. Independentemente da opinião de cada um, este assassinato do jornalista Khashoggi é realmente, e porventura, o mais cruel e estúpido que já vi em toda a minha vida.
Absolutamente patética a figura dum dos agentes dos serviços secretos da Arábia Saudita – cujo Povo Irmão e História respeitamos -, que, disfarçado com as roupas de Khashoggi e com uma barba falsa se esqueceu de trocar os sapatos e foi apanhado pelas câmaras de filmar turcas. A pergunta é também?
A quantas mais pessoas estes verdugos já tinham feito o mesmo? Os meios de comunicação turcos, com base em supostas informações dos serviços secretos turcos, reportaram que Khashoggi foi torturado e assassinado dentro do consulado, sendo desmembrado.
Recorde-se que inicialmente, o Reino da Arábia Saudita negou a morte de Khashoggi e que o mesmo tinha saído vivo. Mas, em 20/10/18, face às filmagens, a própria Arábia Saudita admitiu que “Khashoggi foi estrangulado até à morte depois duma luta”. Já o Jornal espanhol El Mundoem 17/10/18 afirmou que, “com base também nas informações dos serviços secretos turcos”, “Khashoggi foi preso, drogado e depois foi sendo cortado vivo aos bocados ao som de música inspirada no filme de Tarantino Pulp Fiction”.
A Arábia Saudita, segundo notícias do próprio Estado, “prendeu entretanto 18 sauditas envolvidos neste suposto crime, incluindo os 15” carniceiros. O problema é que ainda não há provas destas prisões e o ideal seria os mesmos serem inclusive julgados v.g por um Tribunal Penal Internacional, agora com 20 anos.
Neste ano que a Declaração Universal dos Direitos Humanos está a fazer 70 anos. O que terão os executores a dizer? Quem os mandatou, dado que “alguns convivem com as mais altas esferas do Estado da Arábia Saudita”? O famoso jornalista irlandês internacional Patrick Cockburn afirmou que, citamos: “a Arábia Saudita pensava que, por cometer as atrocidades com impunidade na guerra do Yemen, conseguiria matar com facilidade um só homem no Consulado sito na Turquia”.
Khashoggi, que o conhecia, afirmou depois de Osama Bin Laden ter sido executado pelos EUA: “Tu eras belo e bravo nesses belos dias do Afeganistão, antes de te renderes ao ódio e à paixão”. Referia-se ao combate contra a URSS no Afeganistão. Portugal juntou-se à UE e ONU: “investigue-se até ao fim”. E Portugal não aplica sanções como outros? Business as usual?
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira