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Isto de dizer bom dia…

1. Está nos nossos hábitos saudarmo-nos com um bom dia! (uma boa tarde ou uma boa noite, conforme os casos). Como está nos nossos hábitos, é muito possível que pronunciemos tal saudação maquinalmente, de forma rotineira, sem tomarmos consciência das exigências que isso tem. Por isso acontece de não passar de uma mentira. Sinto dizê-lo, mas estou persuadido de que é mesmo. 2. Dizer bom dia! e passar o dia a importunar o outro não rima. O bom dia! responsabiliza-me. Significa que, da minha parte, tudo farei para que, ao longo do dia, a pessoa se sinta bem. Se, depois dessa saudação, passo o dia a martirizá-la, com os meus caprichos e com as minhas manias… se passo o dia a complicar a vida aos outros, tornando complexo o que por sua natureza é simples… se passo o dia na resmunguice ou a fazer exigências e mais exigências, perfeitamente dispensáveis… se passo o dia a sobrecarregar os outros com trabalhos que posso e devo fazer…. se passo o dia a falar com maus modos, a irritar-me por tudo e por nada, a agredir verbal ou fisicamente os outros… Dir-me-ão que dar os bons dias é uma questão de educação. Mas não deve ser manifestação de hipocrisia. 3. Ouvi muitas vezes ao falecido P. Barbosa Pinto uma pergunta que posteriormente me disseram ser de Sebastião da Gama. Dizia aquele sacerdote da Companhia de Jesus: não te pergunto se és feliz; pergunto-te se são felizes os que vivem contigo. Contribuir para a felicidade dos outros, a começar pelos que vivem connosco, devia ser uma regra a pôr em prática por cada um de nós. Infelizmente nem sempre o é. Pode acontecer de ao longo do dia praticarmos mais atos de egoísmo do que de altruísmo; de pensarmos mais em nós do que nos outros; de colocarmos os nossos interesses, as nossas conveniências, os nossos caprichos e as nossas manias acima do que é o bem dos outros; de sermos mais teimosos do que transigentes. Infernizamos a vida aos outros em vez de lhes criarmos bom ambiente e de os ajudarmos a suportar agruras que a vida tem. Fazemos de nós o centro de tudo e pretendemos que tudo gire à nossa volta. 4. Os outros também existem, mas parece que nem sempre tomamos consciência disso. Os outros também são pessoas. Também são filhos de Deus. Também têm projetos e aspirações muito legítimos. Também têm direito a serem felizes. Deus fez-nos todos diferentes e não temos o direito de exigir que passem a ser fotocópias ou clones de nós. Os outros também têm direitos. A começar pelo direito a serem respeitados como seres humanos e filhos de Deus que são. Também têm direto ao seu bom nome e à sua boa fama. Também têm direito a um ambiente sadio. Também têm direito a que lhes não tirem o sono. Não é legítimo que os tratemos de qualquer maneira ou deles façamos nossos criados. E se prego que a vida deve ser vivida como um serviço aos outros por amor de Deus, coerentemente devo começar eu por servir, vendo Jesus nas pessoas a quem sirvo. Facilitar a vida aos outros deveria ser uma prática diária de cada um de nós. Se saudamos os outros com um bom dia! devemos saber aceitar as exigências que isso traz e agir em conformidade. 5. Em resumo: isto de dizer bom dia! tem muito que se lhe diga. Um bom dia! para todos, a começar pelas pessoas com quem vou conviver. E que eu comece por pôr em prática tudo o que escrevi. O Senhor nos ajude a darmos testemunho dEle, amando-nos como Ele nos amou. Vivendo o amor como doação e serviço. Vivendo o amor não como um servirmo-nos dos outros mas um servirmo-nos os outros. Não como um vivermos à custa dos outros mas um vivermos para os outros. Amém.
Autor: Silva Araújo
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6 maio 2021