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“Isso de filhos, está bem para os católicos!”

Se a nossa taxa de natalidade já era muito baixa, neste ano, apesar das melhorias económicas efectuadas por quem agora nos governa, parece que os casais portugueses não estão virados para a fertilidade. Motivos? É difícil de encontrar... Mas, vejamos. Falámos de casais. Ser um casal, nos nossos dias, não é, necessariamente, viver com estabilidade e continuidade. Pelo contrário, as leis que nos regem facilitam de forma atraente a separação e o termo da relação. O número de divórcios e a prática da união de facto são um convite a que os parceiros não se comprometam a fundo. Dão-se bem? Pois continuem enquanto essa situação se mostrar favorável. Há problemas? Siga cada um o seu destino. E se houver descendência? Compartilhem-na de forma racionada; seccionando a relação entre os dois, ora com a mãe, ora com o pai. Os filhos transformam-se numa espécie de bola de pingue-pongue, andando dum lado para o outro, conforme a lei determina. O lar onde nasceu arruinou-se e agora os direitos dos progenitores, que não discutimos, são a salvaguarda intercalada das manifestações de carinho. E estes filhos ainda nasceram. Porque o aborto e a contracepção generalizada evitam que surjam mais nascimentos. Até já há quem defenda como um direito do progenitor, a recusa da paternidade ou o cuidado de um filho que a mãe não queira abortar. Se ela o pode fazer e não quer, que assuma as suas responsabilidades. “Eu não tenho nada a ver com isso...” O ambiente anti-natalista e anti-familiar é um dos principais responsáveis pelo envelhecimento da nossa população. Efectivamente, com perspectivas tão foscas e baças, gerar um filho é um incómodo, ou melhor, é um assunto tão sui generis e tão complexo, que muitos dos nossos jovens e muitos dos nossos casais fazem um verdadeiro drama da procriação, sem desistir da sexualidade, que se torna deste modo um factor de prazer e de recreio, que dura – se há um compromisso – enquanto um e outro se entenderem numa espécie de lua-de-mel que tudo torna agradável e nefelibático. Não há muito tempo, dizia alguém na mesa de um café. “Isso de filhos está bem para os católicos!”. E tem razão, porque são coerentes com aquilo que as três virtudes teologais, infusas e recebidas no baptismo, lhes ensinam. Diz-lhes a fé: ninguém nasce por acaso, porque Deus pensou em cada ser humano “antes da constituição do mundo” para ser santo (Ef.1,3), ou seja, para ser inteiramente feliz, o que só é possível no céu. Deus está, pois, empenhado em que todo o homem consiga atingir, com a ajuda sua, a felicidade perfeita, que Ele lhe oferece como razão de ser e finalidade essencial da sua criação. Esta expectativa fomenta-a a virtude da esperança, que nos convida a pensar no bem perfeito que nos está reservado, e nos faz sentir fortemente defendidos pelo intuito salvífico de Deus, que tudo fará, com respeito pela nossa liberdade, para nos tornar acessível o dom do céu. A caridade, tão bem espelhada no amor que Deus nos tem ao dar-nos a vida, na capacidade de perdoar as nossas fraquezas, na vinda à terra de Jesus Cristo redentor, que nos voltou a dar a graça e nos proporcionou a filiação divina, certamente que penetra no coração dum fiel, levando-o a sentir um gosto intenso, se é coerente, de compartilhar com o seu criador, na vinda ao mundo de novos seres humanos, que trazem consigo esse projecto de felicidade, querido e imaginado por Deus “antes da constituição do mundo”, insistimos com S. Paulo, para serem perfeita e totalmente felizes na Sua própria companhia e na de todos os santos. Como não compartilhar com Deus essa capacidade geradora, condição fundamental da felicidade de todo o homem? O tal senhor do café não disse um disparate: os católicos têm fortes razões para se abrirem à procriação.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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30 setembro 2017