Irmão universal

1. O Papa Francisco decidiu no passado dia 03 aprovar a canonização do francês Carlos de Foucauld, inspirador dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus.

Carlos de Foucauld (Carlos Eugénio de Foucauld de Pontbriand) nasceu em Estrasburgo, em 15 de setembro de 1858, de uma família aristocrata e cristã. Órfão aos seis anos, educado por um dos avós, foi herdeiro de uma grande fortuna.

Batizado dois dias após o nascimento, recebeu posteriormente a primeira Comunhão e o Sacramento do Crisma. Mas cedo deixou a prática religiosa, perdeu a fé e levou uma vida indisciplinada.

Frequentou a Escola Militar Especial de Saint-Cyre, onde ganhou fama de folgazão, e seguiu a carreira das armas. Aos 22 anos foi mobilizado para a Argélia, então colónia francesa. Aos 25 deixou a vida militar e dedicou-se à exploração geográfica em Marrocos.

2. O contacto com muçulmanos levou-o ao reencontro da fé. “Será que Deus existe?”, passou a interrogar-se.

Convertido em 1886, procurou, através de diversas experiências, descobrir a verdadeira vocação. Em 1900 foi para Jerusalém e Nazaré, onde decidiu imitar o estilo de vida simples de Jesus. Concluiuque era chamado a ser irmão universal no coração do Saara entre os muçulmanos e os povos tuaregues (comunidade constituída por pastores seminómadas, agricultores e comerciantes, de maioria muçulmana, habitantes da região sahariana do norte de África).

Viveu como pobre nas periferias entre os últimos, numa atitude de escuta e na prática do apostolado da amizade e da bondade. Antecipou as instruções do Concílio Vaticano II de abertura e diálogo com o mundo, as religiões e as culturas.

3. Seu percurso espiritual é marcado por inquietações e buscas, pelo amor a Jesus, escuta dos Evangelhos, adoração eucarística, silêncio, experiência da gratuidade do amor de Deus, fraternidade universal e proximidade com os pobres, escreveu o P. Maurício da Silva Jardim.

Ordenado sacerdote aos 43 anos decidiu ser um pobre entre os mais pobres e evangelizar com a vida. A um médico que lhe perguntou: "O que me aconselha fazer com os Tuaregues?", respondeu: "Ê necessário ser simples, amigável e bom com eles: amá-los e fazer-se amar. Sorrir também ao dizer as coisas mais simples. Eu, como vê, sorrio sempre. O sorriso aproxima as pessoas, permitindo-lhes entenderem-se melhor uns com os outros. O sorriso é a verdadeira caridade".

Na Argélia escolheu o eremitério de Beni Abbès para viver. Recusou “instruir” os muçulmanos na religião cristã ou convertê-los, querendo apenas dar-lhes “a conhecer, mais com os atos do que pelas palavras, a moral cristã”.

Dedicou-se também à produção de obras de linguística e cultura tuaregue tendo escrito os Evangelhos naquele idioma.

O eclodir da Grande Guerra (1914-18) criou-lhe dificuldades e foi assassinado aos 58 anos, em 01 de dezembro de 1916, por um grupo que se opunha aos cristãos e lutava contra a colonização francesa.

Bento XVI beatificou-o em 2005.

4. O estilo de vida de Carlos de Foucauld tornou-se referência para dez congregações religiosas do século XX e para a renovação de outras já existentes.

Em 1933o Padre René Voillaume fundou aFraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesusou apenasPequenos Irmãos de Jesus.

Os irmãos fazem votosde pobreza, castidadee obediência à Igreja, querendo compartilhar as mesmas condições dos pequenos e dos pobres e ser tratados como eles.

Madalena Hutin, nascida em Paris em 1898, aos 23 anos descobriu a vida e os escritos de Carlos de Foucauld e encontrou o seu ideal de vida: “o Evangelho vivido, a pobreza total e, sobretudo, o amor”. Em 1939 fundou na Argélia a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, que chegaram a Portugal, em 1952, integrando-se no Casal Ventoso, bairro lisboeta marcado por uma extrema pobreza e marginalidade.

No nosso País há uma comunidade dos Irmãozinhos de Jesus a viver em Setúbal e três comunidades de Irmãs nos bairros de Chelas (Lisboa), Apelação (Loures) e em Fátima.