“
Temos paróquias que já estão insolventes do ponto de vista da sua administração local. Mas há algo também que se chama solidariedade interparoquial, há algo que se chama solidariedade diocesana e que procura ir ao encontro destas situações”.
Esta afirmação foi proferida pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa após a reunião plenária que decorreu, em Fátima, de 12 a 15 de abril.
Com efeito, já no comunicado final escrito publicitado da CEP se dizia: «a Assembleia refletiu sobre a pandemia, tendo em conta a situação epidemiológica atual, a situação de vulnerabilidade e de grave crise económica e a realidade concreta em cada diocese. Entre outros desafios pastorais, que devem ser assumidos em dinamismo profético, missionário e sinodal em todas as instâncias eclesiais, foram destacados os seguintes: o anúncio do essencial da mensagem cristã; a importância da dinâmica comunitária e de fraternidade; a missão da família e dos leigos; a atenção particular aos jovens e aos idosos; a urgência da formação; o cuidado das novas linguagens. A Assembleia vê a saída desta pandemia como ocasião para a renovação da vida da Igreja e da sua missão no mundo».
De uma forma mais específica o mesmo comunicado se referia às IPSS’s sob a responsabilidade das paróquias: «a Assembleia manifestou a sua preocupação pela sustentabilidade das instituições de solidariedade social. A epidemia tornou evidente que, além do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, devem poder contar com o apoio logístico e financeiro do Ministério da Saúde».
Diante destas preocupações de ordem material, que podemos ou devemos refletir? Como poderá a Igreja católica, enquanto instituição que vive em condição terrena, sobreviver às dificuldades e problemas trazidos ou agravados por esta pandemia? Teremos meios e capacidade de ultrapassar estas conjunturas, tendo em conta o abaixamento de frequência das assembleias, sobretudo da missa e dos sacramentos de âmbito social? Estarão os nossos ‘fregueses’ atentos a estes problemas económicos e de sustentabilidade? Que fazer e como fazer para esclarecer, motivar e comprometer os ‘praticantes’ para uma fé que se faz partilha, fraternidade e solidariedade? Não haverá meios mais audazes ou teremos de entrar em bizarrias algo questionáveis?
1. Aquela leitura algo inquieta do presidente da CEP certamente refletia o que outros prelados terão partilhado. A visão de âmbito nacional talvez não seja uniforme, mas que existe um problema nesta matéria dos dinheiros é indisfarçável. Estamos mais em maré de falta de dinheiro do que em excesso.
2. Vivemos num modelo económico de Igreja alicerçado na esmola dos fiéis. Com efeito, desde o início do cristianismo se entendeu que a partilha dos bens há de decorrer da disponibilidade interior – cf. At 4,32-35 – manifestada em que tudo se possa colocar em comum, não por obrigação, mas por descoberta espiritual com os irmãos.
3. Na Concordata celebrada entre a Santa Sé e a República Portuguesa, em 2004, no artigo 26.º, n.º 1, alíneas a) a c) estipula quais as ações que não estão sujeitas a qualquer imposto por parte do Estado: ‘as prestações dos crentes para o exercício do culto e dos ritos; os donativos para a realização dos seus fins religiosos; o resultado das coletas públicas com fins religiosos’. Seria exaustivo elencar atos de pessoas jurídicas não-tributáveis ao abrigo da Concordata. Enumeramos aqueles que envolvem mais as pessoas singulares e que nos deviam fazer atender com mais sentido cívico e religioso…
4. Se bem que nos últimos anos – talvez ainda não tenha três décadas de implementação – de forma um tanto generalizada tem sido incrementado um ‘estatuto económico’ – das dioceses, das paróquias e do clero – em ordem a dar estabilidade à ação pastoral. Mas para poder distribuir é preciso que haja material. Ora esta pandemia pôs a nu algo o que não se esperava com tanta velocidade nem com semelhante gravidade.
5. Há casos em que uma espécie de fuga dos responsáveis terá irremediável repercussão nas contas das paróquias. Dá a impressão que o salvar da pele não esteve na linha da dedicação… e isso poderá não passar sem castigo. Dizia o Papa Francisco, recentemente em dia ordenações sacerdotais aos novos padres: ‘por favor, afastai-vos da vaidade, do orgulho do dinheiro. O diabo entra pelos bolsos’.
Como precisamos de reaprender a linguagem do Evangelho, tendo Jesus como modelo, sempre!
<Destaque>
Como precisamos de reaprender a linguagem do Evangelho, tendo Jesus como modelo, sempre!
Autor: António Sílvio Couto