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Inquietações e dúvidas para 2023

No dealbar de um novo ano sempre se põe a questão: o que nos reservam os 365 (6) dias que aí vêm? E, por entre dúvidas e inquietações, ninguém consegue, nem os fazedores de horóscopos e o lançadores de dados e, muito menos, os leitores da palma das mãos e das bolas de cristal, fazer uma previsão acertada.

Agora, que 2022 está a dar as últimas ou, como diz o povo, a esticar o pernil, como qualquer mortal que se preze, ele, como 2021 não é um ano para ficar na história; e direi mesmo que, se ficar na história, será pelas piores e mais dolorosas razões, não fora a Covid 19 – essa maldita pandemia – a tirar-nos a liberdade, a convivência e a alegria com intermináveis confinamentos e isolamentos, bem como com milhares de mortes.

Depois, os políticos continuam a prometer e a não cumprir, os impostos a afligirem a carteira dos contribuintes, a inflação a aumentar, a pobreza sempre em alta, de um lado os que têm muito ou tudo e do outro lado os que pouco ou nada têm, as reformas e pensões não passam de dotações de miséria e sobrevivência e, como cogumelos em monturos de estrumeira, continua a multiplicar-se a forma mais comum de viver à custa dos outros e até do erário público através da corrupção, do compadrio, do caciquismo, do tráfico de influências e da especulação.

Deixemos, pois, morrer 2022 em paz que é o que comummente se costuma desejar e que o seu finamento celebrado seja com foguetório e banda de música; porque, afinal, o seu lugar só pode ser mesmo no caixote do lixo da história; porque, afinal, tanta dor, tanta inquietação e tamanha desilusão trouxe ao nosso quotidiano.

Pois bem, 2023 não se preconiza como um ano de abastança, bem-estar, justiça e paz social, embora o governo continue a dourar, como sói dizer-se, a pílula, quando na realidade nem pílula há; e certo é que se auguram tempos difíceis para as famílias, para os trabalhadores, para os pensionistas e reformados e, até os doentes que deviam ser acarinhados e acompanhados, atempadamente e sem qualquer falha, nas suas fragilidades e medo acabam por ser pontapeados pelo Serviço Nacional de Saúde.

Depois, uma curta e ligeira análise aos números da inflação dá-nos uma leitura desanimadora, pois vai continuar a aumentar bem como as dificuldades sociais e a riqueza nacional não crescerá, mesmo que o primeiro-ministro ardentemente o deseje, uma vez que o PIB (Produto Interno Bruto) per capita, a confirmarem-se as previsões da Comissão Europeia, apenas subirá um ponto percentual, sendo nós ingloriamente ultrapassados pela Roménia que subirá mais de vinte pontos percentuais; e, então, para nossa tristeza e comiseração, o Orçamento de Estado para 2023 leva cartão amarelo da mesma Comissão por ser expansionista, podendo fazer aumentar o défice e a dívida.

Ainda as reformas fundamentais que há muito deviam ter sido feitas constantemente são adiadas por falta de entendimento entre os partidos políticos com acento no Parlamento, mais preocupados com ideologias e medidas fraturantes como a aprovação da eutanásia, os casamentos homossexuais, o aborto e os direitos dos animais e idênticas medidas onde imperam razões extremistas e populistas; e o governo socialista, mesmo maioritário no Parlamento, não parece com capacidade capaz para dar a volta à situação, engalfinhado em casos de má governação e supostos arranjos que não passam de remendos em pano roto.

Por isso, os serviços sociais básicos nacionais, como os da Segurança Social, da Justiça, da Educação e da Saúde tendem a colapsar tamanhos são já o descontrolo, a contestação nas ruas e a pressão constante que sobre eles é feita pelos seus diretos utentes, como, por exemplo, acontece no SNS com fechos de maternidades e serviços de urgência, demissões de administradores hospitalares públicos e fuga de médicos para os serviços privados e episódios de falta de assistência médica aos que mais precisam; e, aqui, os hospitais privados e demais serviços congéneres têm funcionado como pilar e tábua de salvação onde falha o Serviço Nacional de Saúde.

Assim sendo, face a este panorama negro e desanimador nestes setores vitais da vida nacional que afeta duramente a vida das famílias, dos trabalhadores e da economia do país. 2023 não me parece que venha a ser um bom ano; pelo que o seu aparecimento, a meu ver, não mereça ser festejado e muito menos recebido com muito otimismo, efusividade e confiança.

Mesmo assim, só tenho a desejar-lhes um novo ano de solidariedade, paz e amor, independentemente de não trazer consigo previsões animadoras e esperanças renovadas de felicidade e bem-estar.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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28 dezembro 2022