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Inovação, sempre a Inovação!

A par da Sustentabilidade, que congrega todo um conjunto de ideias e conceitos, a Inovação será, porventura, atrevo-me a dizê-lo, a segunda maior referência no novo léxico político, empresarial e universitário. A esta tríade falta juntar um ingrediente: os cidadãos. Toda a política de investimento que possa ser gerada pela vontade expressa de alavancar a Inovação, como motor da nova economia, não pode descurar as necessidades das pessoas. Por vezes, acontece, que é exatamente o contrário que é gerado, criando um divórcio entre intencionalidade, racionalidade e sentido prático. Quantos de nós somos confrontados com novas tecnologias disruptivas e bem, prometedoras de um novo amanhã facilitador? Quantos de nós, não ficam estupefactos com novidades que nos são vendidas como soluções que ajudam a ganhar tempo e por vezes dinheiro? Mais ainda: quantos de nós chegaram à conclusão de que uma boa parte desta capacidade inovadora nos remete para soluções no mundo digital, descurando que nesta fase da vida ainda precisamos e muito de respostas físicas? - Responder a estas dúvidas pode parecer fácil, mas entre a necessidade e a capacidade de satisfazê-la, há por vezes um muro intransponível entre os que inovam e projetam a pensar que o seu trabalho terá uma aplicação prática e os que sentem na pele, enormes dificuldades para articular todas essas respostas com a sua própria vivência quotidiana.

A resposta não é fácil, e deixa-nos no limbo entre a criação da necessidade a que temos assistido com uma voracidade gigantesca desde o tempo da criação do telemóvel, e o sentido prático da inovação como suporte à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Ainda que a pegada humana caminhe para o desligar silencioso das necessidades físicas, em detrimento das necessidades virtuais, há um longo caminho a percorrer cheio de debilidades próprias de uma sociedade que não consegue resolver problemas básicos como o acesso a bens essenciais, entre tantas necessidades, que se fossem nomeadas aqui, precisariam do dobro do espaço de que disponho.

Não sei o que se vai passar na primeira cimeira do Conselho Europeu de Inovação que decorre na próxima quarta-feira, em Bruxelas, mas sei que alimentar expectativas demasiadas altas para encontrar caminhos solúveis, pode ser frustrante. Há que reconhecer o esforço de muitos para chegar a um consenso entre a habilidade de inovar a e resposta aos problemas das pessoas. Contudo, falta a coragem política para debelar problemas antigos como a fome, a pobreza ou o acesso à habitação de forma inovadora, fugindo a modelos estereotipados que já não resolvem e são eles próprios fonte de problema. Centrados que estamos em alavancar as políticas urbanas rumo à Sustentabilidade, continuo a assistir ao endeusamento das soluções tecnológicas que,

apesar do seu cunho inovador para a infraestruturação da sociedade instantânea, continuam a ser pouco condizentes com o dia a dia. Não pude acompanhar, como gostaria, a Smart City Expo World que decorreu em Barcelona, mas não é habitual nestes espaços dar resposta a questões básicas. São respostas secundárias que ajudam a alavancar uma indústria onde se geram milhões de euros e um enorme mercado de expectativas. Enquanto for assim e não formos capazes de cocriar para resolver questões essenciais do mundo urbano, talvez não seja de estranhar a frustração de alguns em não verem reconhecido o seu esforço. Este tem de ser desenvolvido para encontrar respostas inovadoras a perguntas tão simples: como acabar com a gestão da pobreza, como criar soluções mais baratas para que a água, saneamento, eletricidade, gás, telecomunicações, habitação e mobilidade se tornem direitos básicos, geridos e consumidos com responsabilidade de forma acessível?

Como nos podemos tornar mais inteligentes com acesso ao conhecimento de forma não discricionária? Como substituímos hábitos pouco saudáveis na nossa pegada humana sem pôr em causa direitos, liberdades e garantias, utilizando instrumentos inovadores de condensação do consumo?

Infelizmente, em muitas cidades, que se têm tornado o patrono da sobrevivência humana, assistimos não à simplificação dos modelos de governação das necessidades, mas à criação de ecossistemas cada vez mais complexos e exigentes. Assiste-se, isso sim, ao arrastar dos problemas antigos e à resolução de questões geralmente associadas a necessidades superlativas geradas pela onda da quarta Revolução Industrial.


Autor: Paulo Sousa
DM

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21 novembro 2021