Se olharmos à nossa volta, ele está em todo o lado; e persegue-nos, impondo-se como material polivalente, prático e barato, porque de uso diário e de difícil substituição.
Todavia dado o seu elevado grau de indestrutibilidade, transforma-se num perigo evidente para a sustentabilidade e biodiversidade do nosso Planeta, basta pensarmos que o simples palito de um chupa-chupa ou de um cotonete pode durar 450 anos.
Já pensou que o plástico, o maldito plástico está presente em praticamente tudo: nos aviões, nos carros, nos computadores, nos telemóveis, nas garrafas, nos copos e, até, a palhinha que se usa para beber um sumo ou copo de leite, ou a vara que suporta o balão na mão de uma criança são feitos de plástico? Pois é, já não sabemos, desgraçadamente, viver sem ele.
Agora, embora a sua existência já remonte há 100 anos, o seu uso desbragado e dominador só começa a partir da década de 60; sobretudo, em embalagens, utensílios de uso doméstico único e descartável, na construção, nos equipamentos eletrónicos, nos veículos e em milhares de outras variadas utilizações.
Ainda sou do tempo em que se ia à mercearia, à padaria, ao talho, ao mercado com um saco de pano ou uma cesta de vime para carregar os produtos alimentares necessários à vida familiar; e, até, o fiambre, o queijo, o café, o açúcar, os frutos secos o arroz ou as massas eram acomodados em embalagens ou cartuchos de papel normal ou vegetal; e o mesmo acontecia com os produtos líquidos para cujo envasilhamento e transporte se recorria a garrafas, garrafões ou cântaros de vidro, lata ou barro.
Ora, estes eram tempos em que a febre do consumo, do desperdício, do lucro fácil e da ditadura macroeconómica ainda não tinham feito a sua aparição e dominação; e, assim, os problemas ambientais, de desequilíbrio e agressão ecológicos com as consequentes ameaças à vida do Planeta longe estavam de serem equacionados e de merecerem preocupação e tomadas de posição globais.
Hoje, o sinal de alarme soa e agita as consciências mais sensíveis e responsáveis; é que as estatísticas falam por si e dramaticamente: em 2015, por exemplo, foram produzidos 322 milhões de toneladas de produtos de plástico que foram colocados no mercado europeu.
Daqui resulta que, feitas as devidas contas, estima-se que a cada minuto sejam despejados no mar o equivalente a um camião de lixo de plástico cheio de garrafas, copos, pratos, talheres, sacos, beatas, esferovite, microesferas de cosméticos; e, juntando a esta montanha de plástico, ainda temos milhões de toneladas de detritos do dia-a-dia. Absolutamente alarmante.
Isto leva a que nos oceanos apareçam já ilhas enormes de plástico; e a fauna marítima começa a confundir microplástico com comida, ingerindo-o e, consequentemente trazendo-o à nossa dieta alimentar diária; e, por isso, não nos espantemos que, um dia, ao comermos um prato de peixe com todos, o plástico dele faça parte, pois, segundo as mais recentes estatísticas, em 2050, os oceanos, se nada for feito, terão mais plástico do que peixe.
Pois bem, têm sido tomadas medidas, quer pela ONU, quer pela União Europeia. mas ainda demasiado tímidas e pouco persecutórias para a redução do plástico e, em alguns casos, para a sua substituição por outros materiais; só que os governos da maioria dos países não seguem igualmente uma política drástica de fiscalização e punição contra o uso deste inimigo público número um.
Penso que este é um problema mundial para cuja resolução não chegam os apelos de consciência individual e coletiva a fim de, pelo menos, se recorrer ao uso dos três erres: reduzir, reutilizar e reciclar; pois, dada já a dimensão atual do problema, a vida no Planeta corre sérios riscos de extinção.
Por isso, a mais rápida e eficaz solução passa pela proibição/punição e não pela educação; porque esta, contrariamente àquela, demora décadas a dar resultados; como, igualmente, a vontade e ação políticas dos governos deve ser a frente mais ativa e a mobilizadora para levar em frente tão ciclópico combate e, assim, conseguir vitórias mais rápidas e concludentes.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Inimigo público número um

DM
6 março 2019