Aincontinência urinária é uma patologia comum, estimando-se que atinja cerca de 20% da população portuguesa. Esta é uma das doenças crónicas mais prevalentes, sendo mais comum na mulher, mas que ocorre também em homens. Consiste na perda involuntária de urina pela uretra e pode afetar pessoas de diferentes faixas etárias.
Para melhor entendimento de como surge a incontinência urinária importa explicar sucintamente como funciona o sistema de controlo urinário: a bexiga armazena a urina que é constantemente produzida pelos rins e, até estar cheia, retém a urina através de um músculo (o esfíncter urinário) que permanece contraído de forma a manter a uretra fechada (canal que leva a urina para fora do corpo).
Quando a bexiga enche, são enviados estímulos ao cérebro e a pessoa tem consciência da necessidade de urinar, podendo decidir se irá urinar ou não. No momento em que a pessoa decide urinar, há uma contração voluntária do músculo da bexiga (o detrusor) ao mesmo tempo que o esfíncter urinário e os músculos da pelve relaxam e permitem o escoamento da urina. Quando existem anormalidades na capacidade de reter a urina, falamos de incontinência urinária.
A incontinência urinária interfere com a vida social, causa embaraço, afeta a autoestima e diminui consideravelmente a qualidade de vida dos seus portadores. Trata-se também, ainda hoje, de uma patologia estigmatizante, o que faz com que muitos doentes tenham vergonha de a referir aos profissionais de saúde, ou simplesmente considerem que é um processo normal decorrente do envelhecimento.
A incontinência urinária divide-se em três grandes grupos: a incontinência urinária de esforço, característica das perdas urinárias que ocorrem durante os exercícios físicos, tosse ou espirros, entre outros; a incontinência urinária de urgência, quando as perdas urinárias surgem após uma vontade súbita de urinar, difícil de adiar, e que não permite tempo suficiente para o adequado esvaziamento vesical e a incontinência urinária mista, quando existe uma conjugação de queixas de esforço e de urgência.
A avaliação inicial do doente carece sempre de uma história clínica detalhada, com enfoque na história obstétrica, cirúrgica, medicamentosa e de doenças que possam interferir com o normal funcionamento vesical ou antecedentes de grandes traumatismos. A investigação complementar carece do recurso a exame de imagem, a estudo laboratorial ou a exame urodinâmico (exame que avalia o comportamento e funcionamento da bexiga).
A definição de um plano de tratamento depende de vários fatores, nomeadamente, da gravidade das perdas urinárias, do impacto na qualidade de vida e da vontade manifestada pelo doente em ser submetido a procedimentos invasivos, eventualmente cirúrgicos. Para prevenir esta doença é importante adotar um estilo de vida saudável, com cessação tabágica, prática regular de exercício físico e perda de peso, se for caso disso.
Contudo, quando essas atitudes não são suficientes, existem atualmente opções terapêuticas que podem ir desde a elaboração de planos de exercícios de reforço dos músculos do pavimento pélvico, ao tratamento farmacológico, passando por diversas intervenções cirúrgicas até à implantação de dispositivos mais complexos como os esfíncteres urinários artificiais.
Em resumo, a incontinência urinária é um problema de saúde do qual todos temos elevada probabilidade de vir a sofrer, com o processo do envelhecimento. É de diagnóstico relativamente simples e com possibilidade de tratamentos pouco invasivos e muito eficazes. O primeiro passo para o tratamento cabe a cada um de nós.
Autor: Vítor Hugo Nogueira
Incontinência Urinária: características e formas de tratamento

DM
2 novembro 2018