Muitas vezes, somos surpreendidos com notícias da morte de pessoas, motivadas por animais. Talvez pensemos que os que mais matam são as feras das selvas africanas, na terra, e os tubarões e outros componentes vorazes das faunas aquosas. Os jornais fazem-se eco de estatísticas diversas, que esmorecem muito as nossas convicções anteriormente referidas.
No entanto, talvez nos assustemos quando elas nos revelam, por exemplo, que os tubarões e os lobos, cada um nos seus territórios, fazem cerca de 10.000 vítimas humanas por ano. E pensamos nas angústias e nas dores de quem por eles é atacado e não pode ou não sabe defender-se.
Todos tememos as cobras. E temos boas razões para isso. Não é assim com os cães. Contudo, estes bichos, tantas vezes super-estimados pelos seus donos, são também motivo de óbito, quando mal tratados e raivosos. As referidas estatísticas apontam para 25.000 mil mortos anualmente motivados pelo “maior amigo do homem”, como costuma dizer-se.
Mas voltemos às cobras, esses seres rastejantes e subtis, que são um perigo para a nossa existência, sempre que não tomamos as devidas precauções. No mesmo período de tempo, o somatório das vítimas aumenta para o dobro dos anteriores, ou seja, 50.000.
Mas o que mais surpresa nos causa diz respeito a esses pequenos animalitos que às vezes estragam completamente as nossas noites de sono, porque zoam à nossa volta, em melodia irritante, e nos picam de forma impiedosa. Sem querer assustar, porque, felizmente, na Europa e, portanto, no nosso país, estamos mais ou menos defendidos para os enfrentar de modo eficaz. Contudo, por ano, em todo o mundo, os mosquitos malévolos tiram a vida a 725.000 pessoas.
Atenção: estes números aqui apresentados não são quiméricos ou exagerados, mas fruto duma investigação séria e científica. Os homens, apresentam-se menos mortíferos em relação aos seus congéneres do que esses insectos, porque matam “apenas” 425.000. Seja como for, esta quantidade não é muito benévola para a paz e a concórdia em que deve viver o ser racional aqui na terra. Mas será apenas essa quantidade de vidas humanas dilaceradas pelo próprio homem todos os anos?
Que os animais, que não têm razão, causem tantos distúrbios e sejam protagonistas de muitos milhares – centenas de milhares! – de pessoas que perdem a vida com os seus ataques impossíveis ou difíceis de suster, certamente que nos provoca dor e tristeza. O concurso dos nefastos mosquitos faz com que haja mais do dobro de falecimentos entre os membros da espécie a que pertencemos do que aqueles que são provocados directamente por nós.
Mas será mesmo assim? Os direitos humanos, com certeza, convidam-nos a ter um respeito soberano pela nossa vida. É uma exigência, pensamos, que só pode existir quando um ser é dotado de razão, que lhe permite conhecer, compreender, explicar e respeitar a realidade. E a natureza humana exige de nós um respeito absoluto pela sua existência. Felizmente, concluímos, que a pena de morte está a extinguir-se em quase todos os países civilizados. Um criminoso, mesmo horripilante (inquirimos), não terá direito a viver? Assim se fomenta a possibilidade do arrependimento, etc.
Dizem ainda as estatísticas. anualmente, o homem provoca 201.000.000 de abortos; 23% das gestações são abortadas; de 33 bebés que nascem, 10 morrem por aborto. Afinal, o autor dos direitos humanos é aquele que menos respeito tem pela natureza da sua condição. O homem provoca mais mortes nos seus congéneres do que todos os outros animais irracionais no seu conjunto.
Claro que um defensor do aborto dirá: é diferente. É diferente – e por que não mais repugnante e nojento – matar um ser humano indefeso voluntariamente? Nos tempos da escravatura, se era uma injustiça a condição do servo, pelo menos reconhecia-se a sua utilidade e mantinha-se na existência. O aborto, financiado pelo Estado, reconhece a quem não deseja que um filho venha ao mundo o direito de o matar e ser lançado no caixote do lixo. O homem, com esta decisão que a lei protege, tornou-se no mais feroz depredador da sua espécie.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva