Ano após ano a devastação da floresta pelos incêndios, repete-se!
Em cada verão, as imagens das labaredas infernais consumindo matas e arvoredos, bosques e serras entram-nos casa adentro destruindo a quietude dos dias estivais.
Ciclicamente, a paisagem que foi verde transforma-se, repentinamente, num manto pesaroso de árvores queimadas em chão desventrado e coberto de cinza.
A floresta, que contribuía para purificar o ar que respiramos fornecendo oxigénio e retendo dióxido de carbono, virou cemitério de árvores, de arbustos e de animais selvagens.
A floresta, que conferia beleza e tranquilidade à paisagem e era um regalo para quem a usufruía, virou num ápice pântano de morte.
A floresta, que foi pasto para rebanhos, abrigo para animais bravios e contributo importante para a conservação dos recursos hídricos e para a manutenção da biodiversidade, sofreu danos que levará muito tempo a reparar.
A floresta, que dava trabalho a muitos portugueses que tinham nela um modo de vida que lhes garantia o sustento, tornou-se num enorme pesadelo para estes cidadãos que se veem na contingência de terem de abandonar a atividade e as terras em que sempre labutaram.
Todos os anos testemunhamos juras dos vários órgãos do poder de que agora é que vai ser, de renovadas promessas de restruturação florestal, de mais meios para a prevenção e doutros tantos para o combate a este devastador flagelo dos incêndios. Simultaneamente, multiplicam-se explicações para esta repetida catástrofe que destrói esta importante riqueza e culpabiliza-se a seca e os pirómanos que, por qualquer debilidade mental ou a mando de alguém com interesses inconfessáveis, não se coíbem de pegar fogo usando os mais diversos estratagemas.
Perante este cenário dramático, que anualmente nos desassossega e empobrece, não haverá outro remédio para um combate mais eficaz?
Não será possível dar um melhor destino aos muitos milhões gastos em meios aéreos e terrestres, aos milhares de horas de trabalho dos soldados da paz e aos incalculáveis prejuízos causados pelos fogos às populações atingidas? Tudo isto sem contabilizar o enorme sofrimento humano que este periódico desastre sempre provoca!
Não seria mais útil aplicar os elevados montantes gastos no combate aos incêndios alocando-os à prevenção, investindo-os na videovigilância e no reforço das brigadas dos guardas-florestais do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da Guarda Nacional Republicana e nos serviços do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)?
Perguntar não ofende, por isso questiono se não haverá melhor solução para esta maldição que anualmente nos bate à porta.
Pergunto se não será possível uma melhor coordenação das várias instituições implicadas no tratamento desta matéria com enorme relevância nacional, de modo a tornar residual o combate a este trágico flagelo.
Pergunto se não será possível sentar à mesa as mesmas instituições com responsabilidades neste candente problema, de forma a ultrapassar querelas pendentes como a existente entre a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e a Liga dos Bombeiros Portugueses, relativamente à questão dos comandos.
Pergunto se não será possível fazer um escrutínio mais apurado de todos os incendiários referenciados, de forma a distinguir aqueles que agem dolosamente por sofrerem de qualquer perturbação mental, de todos os outros que atuam a soldo de qualquer interesse ou recompensa e proceder em conformidade.
Pergunto se ao fim de tantos anos, não será tempo de procurar melhor remédio para este problema, que de forma mais ou menos intensa acaba por atingir todos os portugueses.
Pergunto se o nosso querido país não merece uma trégua definitiva em tanta calamidade, colocando-se todos os avanços do conhecimento na resolução deste repetido martírio.
Deixo estas questões não só a todos os detentores de responsabilidade nesta matéria, mas também a cada um dos meus concidadãos, para que possam refletir e não deixem cair este assunto na inércia da indiferença.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira