twitter

Inatividade física em Portugal, muito preocupante

Um relatório divulgado no início deste ano pelo European Heart Network, uma aliança entre organizações governamentais e não-governamentais que se dedicam ao estudo e prevenção das doenças cardiovasculares na Europa, indica que Portugal está entre os países da União Europeia com "maior nível de inatividade física", condição que "aumenta em 20% o risco de doença cardiovascular". A comunidade científica tem vindo a evidenciar em todos os estudos que a atividade física é fundamental para prevenir e tratar as doenças cardiovasculares, no entanto, é mais que claro que a preocupação e os esforços que estão a ser feitos em promoção e divulgação dos benefícios de uma vida ativa e saudável não tem tido a resposta em termos de políticas públicas. Portugal aparece sempre, em qualquer estudo deste tipo de organizações, ou no tradicional e regular estudo Eurobarómetro da União Europeia, nos últimos 4 lugares do ranking de percentagem de população com hábitos de atividade física. Conhecendo estes dados, e sabendo da relação direta das doenças cardiovasculares (50% das causas de morte na Europa) que se estabelece com a falta de atividade física, estamos perante um problema muito grave em termos de saúde pública e, para o qual, os órgãos de governo deveriam ter já atuado de forma musculada e assertiva. Para além já habituais conselhos de utilização dos espaços públicos, da implementação de consultas de atividade física nos cuidados de saúde primários, a promoção do uso de bicicleta e deslocações a pé nas tarefas do dia-a-dia, e outras formas de combate ao sedentarismo, como sugerido pelo European Heart Network, há que ter um programa consistente a nível governamental e com os necessários recursos para o implementar. O diagnóstico está mais do que feito, tantos foram os estudos realizados nos últimos 30 anos com dados para a população portuguesa, sempre com as mesmas evidências, e nós por cá com o “mesmo registo”, sem políticas e programas públicos para inverter este cenário trágico. Há que começar a fazer diferente, e já, para ter resultados diferentes no futuro, ou então tudo vai ficar igual ou pior, e cada vez com maior esforço para recuperar. Temos uma “rede nacional” de serviços educativos e formativos para ativar e também mudar, como por exemplo a educação física escolar, que não está a promover comportamento de uma "cultura física" para o resto da vida. A própria organização do Desporto em toda a linha tem que se adequar, tem que mudar, tudo tem que estar integrado e com objetivos de desempenho quantificados. Pensamos muitas vezes que estamos a fazer um excelente trabalho, mas de facto vivemos de momentos e sucessos muito pontuais que em nada refletem o valor da atividade física e desporto em Portugal. Mais do que o investimento neste setor, que é pouco, e tem necessariamente que aumentar, pede-se ação e organização, para o bem de todos, e, nomeadamente, para o bem da nossa saúde pública.
Autor: Fernando Parente
DM

DM

7 fevereiro 2020