Foi meu Aluno na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na qual obteve o grau de licenciado em Filologia Românica, e foi depois meu Aluno em três seminários do Curso de Mestrado em Línguas e Literaturas Portuguesas na Universidade do Minho, curso que concluiu brilhantemente com a dissertação intitulada Cantigas de João Garcia de Guilhade. Subsídios para o seu estudo linguístico e literário (dissertação publicada pela Câmara Municipal de Barcelos em 1992).
Na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Universidade do Minho distinguiu-se pela probidade e pela solidez do seu trabalho intelectual, pela sua capacidade reflexiva e pelo rigor metodológico que nunca sacrificava ao brilho falaz de quaisquer modas científicas e culturais. No Outono da vida, sempre desejoso de se valorizar academicamente, obteve o grau de doutoramento em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Como estudioso e investigador da literatura e da cultura portuguesas, ocupou-se de um poeta medieval como João Garcia de Guilhade, de autores quinhentistas como Gil Vicente, Damião de Góis e Diogo de Teive e de escritores modernos como Antero de Quental e Fernando Pessoa, mas foi Francisco de Sá de Miranda o autor que mais profunda e duradouramente falou à sua inteligência e à sua sensibilidade.
Em Sá de Miranda admirou Agostinho Domingues o poeta que introduziu em Portugal as novas formas poéticas do Renascimento italiano e que cultivou magistralmente as formas da poesia tradicional, numa simbiose admirável da «medida nova» e da «medida velha» – simbiose que terá a sua mais bela realização na poesia de Camões –, mas admirou sobretudo o poeta-filósofo que denunciou corajosamente a corrupção que medrava na Pátria portuguesa, a dissolução dos costumes e a degradação dos valores morais originados pelos negócios mercantilistas da expansão ultramarina. A poesia e a ética são indissociáveis na obra de Sá de Miranda e essa é a razão maior por que Agostinho Domingues tanto admirou o «Poeta do Neiva».
Em toda a sua obra, Agostinho Domingues demonstra possuir uma formação filológica e histórico-literária de subida qualidade. A lição da «escola de Coimbra», representada por mestres como Costa Pimpão, Paiva Boléo e Herculano de Carvalho e tendo como modelo luminoso Carolina Michaëlis de Vasconcelos, marcou-o profundamente. Mas essa lição de rigor metodológico não se petrificou em Agostinho Domingues numa erudição mais ou menos estéril. Como professor civicamente empenhado em comunicar o seu saber a um público leitor alargado, sobretudo a um público constituído por leitores jovens, e como pedagogo preocupado com a difusão da leitura dos textos literários de autores clássicos, Agostinho Domingues nunca se fechou numa «torre de marfim» académica. O seu magistério, sob este ponto de vista, muito ficou a dever ao exemplo de Rodrigues Lapa, um mestre que, sem prejuízo do rigor filológico e histórico-literário, soube escrever para leitores não especialistas.
Com o falecimento de Agostinho Domingues, Braga ficou culturalmente mais pobre. Mas a sua obra e o seu magistério hão-de perdurar na memória dos seus leitores e dos seus alunos. São professores com a sabedoria pedagógica, a competência científica, o empenhamento ético e cívico de Agostinho Domingues que fazem da Escola o espaço privilegiado, insubstituível, de diálogo criativo com a sociedade, ensinando os jovens a compreender o passado, a construir o presente e a projectar o futuro de Portugal.
(Nota: o autor não escreve de acordo com o chamado Acordo Ortográfico)
Autor: Vítor Aguiar e Silva