Vivemos nos dias a que a piedade cristã costuma designar como “Novena da Imaculada Conceição”, ou simplesmente, “Novena da Imaculada”. São dias que nos recordam o nascimento impoluto de Nossa Senhora, que Deus escolhera desde toda a eternidade, lembrando a expressão paulina, para no seu seio ser concebido o Redentor do Mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Se esta condição deu a Maria a possibilidade de agir duma forma isenta de todo o pecado, a verdade é que ela não deixou de ser livre, em absoluto, para fazer a vontade de Deus. Por outras palavras, as suas respostas aos pedidos que Ele lhe fez na sua vida, foram sempre absolutamente voluntárias. Dela exigiram esforço, ponderação e discernimento para obedecer da maneira mais adequada ao que Deus dela requeria.
Um exemplo flagrante desta característica mariana podemos encontrar quando é interpelada pelo Arcanjo S. Gabriel. Encarregado por Deus para comunicar à donzela de Nazaré a sua vontade de que ela fosse a Mãe do Messias prometido, Nossa Senhora sente certamente uma surpresa muito forte perante esta solicitação divina. Mas nem por um momento hesita em responder positivamente ao que lhe é proposto.
No entanto, não sabe o modo adequado de proceder. Por esta razão, observa com simplicidade: “Como é isso, se eu não conheço varão?” Com esta pergunta não pretende, de maneira alguma, pôr qualquer reserva ao cumprimento da incumbência que lhe é proposta. Apenas deseja saber o que deve fazer exactamente para cumprir com rigor a vontade de Deus. A interrogação que faz não significa, portanto, da sua parte, qualquer hipotética possibilidade de responder negativamente. Maria com essa interpelação não pensa nem deseja dar um não a Deus. Não pergunta com receio de que se a proposta não lhe fosse de todo favorável, ela afirmasse: “A isso não sou capaz de responder afirmativamente!”
Não. A única preocupação que tem é a de conhecer com exactidão o que Deus lhe propõe, para poder dar uma resposta que O satisfaça integralmente. Por outras palavras: Maria não levanta a questão para limitar a realização do que lhe é sugerido, mas para concretizar rigorosamente com o seu comportamento o que a vontade divina lhe manifesta e dela solicita.
Como sempre, a Mãe do Senhor dá-nos um exemplo perfeito de como devemos acolher e responder às solicitações de Deus. É uma pessoa inteligente e acessível. Por isso lhe é proposta uma tarefa, que, na sua condição de mulher casada, levanta muitos problemas difíceis de resolver, pois vai conceber sem o concurso de quem é esposa. Mas essa questão, para si, não é o mais relevante. Ela tem absoluta confiança de que um pedido divino deve ser aceite por nós, ainda que ele possa criar situações complexas de incompreensão e de dúvida a respeito do nosso procedimento.
A vontade de Deus reflecte a perfeição e a santidade incomparável de quem é infinitamente bom e nos ama dum modo que supera todas as nossas dificuldades. E se entre nós e Deus há a distância de quem é imperfeito e limitado na compreensão de Quem é absolutamente perfeito em Si mesmo e em tudo o que propõe, o que devemos fazer, perante alguma incerteza que sintamos em relação à maneira de agir, é perguntar, como Maria, com simplicidade confiante e franqueza total, como devemos proceder para que não turvemos em nada a missão de que Deus nos encarrega.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva