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I can’ t breathe: o vírus da violência policial, da covid-19 e da falta de senso

O que aconteceu com George Floyd não pode acontecer a nenhuma pessoa. Não pode acontecer num país democrático como os EUA onde, apesar do inqualificável Trump, há possibilidade de divulgar estas imagens, como não pode acontecer em regimes comunistas como os da China, da Venezuela, de Cuba ou da Coreia do Norte, onde estas imagens nunca poderiam ser filmadas por um transeunte e muito menos divulgadas. Não interessa se Floyd foi ou não uma pessoa recomendável e autor de vários crimes graves. Pura e simples esta violência policial não é admissível contra ninguém! Esta violência foi considerada de índole racista porque a vítima era negra e o assassino um polícia branco. Tenho as maiores dúvidas sobre a génese real desta morte porque – além dos outros polícias presentes não serem propriamente brancos caucasianos e o racismo ser, deploravelmente, uma realidade em todo o lado – também há agressões com igual ou maior intensidade, entre policias e vítimas da mesma cor, quer nos EUA, quer em muitos cantos do mundo. No entanto, a ocorrência agora destes protestos, perfeitamente legítimos em situações normais no passado, são muito criticáveis numa situação como a atual, em total pandemia de uma doença mortal, facilmente disseminável em manifestações como as ocorridas em Portugal este fim de semana e em todo o mundo livre. O racismo e a violência policial não merecem forte crítica e rejeição? Claro que merecem! Como merece o abuso sexual contra crianças ou contra qualquer pessoa, como merece rejeição o assédio moral, a destruição do ambiente, a fome, a miséria, a subalternização da mulher, a pobreza, a exploração dos trabalhadores, a violência familiar, a escravatura, a corrupção, o terrorismo e muitas situações negativas que existem pelo mundo fora. É difícil colocar numa escala hierárquica estas negativas realidades da vida. Contra qualquer uma delas – e não apenas contra o racismo - é absolutamente legítima e desejável manifestações de forte repúdio. Mas é legítimo fazer manifestações desta maneira, nesta altura? A reações à da morte de George Floyd aconteceram apenas porque foi filmada. Custa imenso ver aquelas filmagens; causam, justificávelmente, enorme repulsa, mas esta reação mundial não teria acontecido sem o filme. E em Portugal onde, ainda há poucas semanas no aeroporto, um ucraniano chegado a Portugal foi barbaramente torturado e assassinado? Por acaso essa morte – antecedida de um grau de tortura, violência e dor muito superior à de George Floyd – não merece grandes manifestações de repúdio em Portugal, já que foi perpetrada na nossa terra e os assassinos são funcionários ao serviço do Estado português? E o que aconteceu, além reações na redes sociais e interpelações ao governo no parlamento? E qual o grau de reação popular pela pouca informação ainda registada sobre este caso e por nada se saber sobre alterações do SEF para evitar tragédias futuras? Praticamente nulo! Claro, esse brutal assassínio não foi filmado! Uma sociedade que vive ao sabor das imagens e do mediatismo não é uma sociedade de valores profundos, universais e democráticos. Além do mais, o grave e irónico destas manifestações é que também aumentam em muito a possibilidade da falta de oxigénios nos pulmões de muita gente vulnerável. “I Can’t Breathe”, dito por Georg Floyd num horrível desespero, que na nossa língua significa “não posso respirar” também pode ser dito, com igual desespero, por infetados pelo vírus Sars-Cov-2, que as manifestações deste fim de semana ajudaram a espalhar entre nós. Estes protestos, organizadas desta maneira, são uma total falta de senso e Deus permita que não venham a tirar o oxigénio a alguém. Nota: Vivemos num Estado de Direito Democrático pelo que têm de ser julgados os autores dos cartazes incitando à violência contra os polícias que, como agentes públicos de autoridade, nos representam a todos nós.
Autor: Joaquim Barbosa
DM

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10 junho 2020