A reforma da Cúria não se atua de forma alguma com a mudança das pessoas – que, sem dúvida, tem acontecido e acontecerá – mas com a conversão nas pessoas. Na realidade, não basta uma formação permanente, é preciso também e sobretudo uma conversão e uma purificação permanente. Sem uma mudança de mentalidade, o esforço funcional não teria qualquer utilidade».
2. Pode viver-se na ilusão de que, para as coisas mudarem para melhor, basta mudar as pessoas. Mas, se não houver cuidado, até pode acontecer de a mudança ser para pior.
Se o chefe faz mudanças só para dar a impressão de que está atento e quer que as coisas mudem; se, nas mudanças, o chefe não escolhe criteriosamente as pessoas, mas procura satisfazer clientelas ou arranjar tachos para amigos; se o chefe não tem a preocupação de escolher reais competências mas se deixa levar por aparências ou por informações de quem busca o próprio interesse e não o bem comum; se o chefe escolhe para lugares-chave pessoas da sua inteira confiança, que lhe dizem amém a tudo e não têm a coragem de lhe chamar à atenção sempre que se apercebem de que vai decidir mal; se o chefe escolhe pessoas que não façam ondas porque o que importa é dar a entender que o grupo de trabalho está unido, pode acontecer de as mudanças, em vez de reformarem, estragarem.
Não se reforma substituindo uma pessoa competente por outra cuja «competência» reside na militância partidária ou na simpatia pessoal.
A grande preocupação de quem pretende verdadeiramente reformar deve ser a escolha criteriosa dos reformadores. Ainda que não façam parte do seu grupo de amigos. Pessoas que tenham dado provas de honestidade, de competência, de bom senso.
3. Há reformas que não passam de simples experiências, como se o bem comum se compadecesse com isso de fazer das pessoas cobaias.
Há reformadores que atuam sem critério seguro, fazendo hoje o que amanhã vão alagar.
Pessoas há que, chegadas ao posto em que foram colocadas, para mostrarem serviço desfazem o que outros fizeram, sem ajuizarem da validade do trabalho dos que os precederam. Custa dizê-lo, mas tem havido reformadores que, para fazerem o que fizeram, melhor seria terem estado quietos.
4. A grande reforma a fazer começa pela renovação da mentalidade das pessoas, o que exige a humildade suficiente para pôr de lado o orgulho e a autossuficiência e dar fim a teimosias e caprichos.
A grande reforma a fazer começa por criar nas pessoas o espírito de serviço e de uma grande dedicação ao bem comum.
Ser chamado a ocupar um lugar de relevo não deve ser motivo para que a pessoa se pavoneie; para que utilize em proveito próprio bens da comunidade; para que favoreça negócios particulares à custa das instituições por cujo bem deve lutar.
Reformar não consiste em dar novo nome às instituições. Se, além da mudança do nome, tudo continua como estava… Além de mudar o nome não será preferível dar meios para que as instituições sirvam melhor? Reformar será complicar a vida às pessoas com exigências mais que dispensáveis?
Não é com a mudança de nome que se eliminam os buracos da rua.
Não se fazem reformas gastando recursos da comunidade em obras de encher o olho mas de utilidade e gosto mais que duvidosos.
Não se fazem reformas mudando apenas o visual ou disfarçando defeitos que não há a coragem de corrigir.
Mais do que de pessoas novas, o bem comum reclama a existência de pessoas renovadas. E então nos setores-chave…
Autor: Silva Araújo