1. Lamentando o que sucedeu na tarde de 15 de maio em Alcochete, em que futebolistas foram agredidos, o Presidente do Sporting Clube de Portugal disse termos de nos habituar; o crime faz parte do dia a dia.E evidente que discordo. Em vez de nos habituarmos a viver com cenas de violência temos obrigação de fazer quanto de nós depende para que não aconteçam.
Habituarmo-nos a um clima desses, não.Um dos males de grande setor da sociedade em que vivemos é o facto de não reagir face a situações relativamente às quais deveria manifestar indignação.
2. É imperioso mostrar às pessoas que a vida em comunidade tem regras que todos devem aceitar e respeitar. De contrário, é o caos.É um erro não convencer as pessoas de que não lhes é permitido fazer tudo o que lhes dá na gana. O é proibido proibir, do maio parisiense de 68, é algo de que discordo rotundamente. Ai de nós se na vida não houver sentidos proibidos e semáforos vermelhos!
3. É urgente lembrar às pessoas que a liberdade é um direito de todos e não um privilégio de alguns.Urgente é também lembrar ter a liberdade justos limites que devem ser observados. Há que educar para o correto uso da liberdade mostrando como a libertinagem é um erro que não deve ser tolerado.
Dizem sermos um povo de brandos costumes. A brandeza não deve ser motivo para tolerar o intolerável e fechar os olhos ao que é injustificável.Ninguém é obrigado a transgredir. Fazendo-o, sujeita-se às consequências. E há transgressões que exigem mão pesada.
4. O que se passou na tarde de 15 de maio em Alcochete mostra como é necessário investir a sério na educação e como não podemos viver reféns de minorias atrevidas para quem vale tudo. Não deve valer. É preciso que não valha. Temos de criar um ambiente em que cada um saiba respeitar e se sinta respeitado.O investimento na educação tem de começar na família, que as tais minorias para quem vale tudo continuam a querer destruir, com a cumplicidade de quem não tem a coragem de dizer: alto, e pára a dança!
Que a família não deixe de ser uma comunidade de pessoas – não de objetos – que se aceitam, se respeitam e se amam.
Todos somos iguais e diferentes. Iguais em dignidade e diferentes num conjunto de pormenores que nos individuam. Aceitar a diferença não consiste em pactuar com a arbitrariedade e com a falta de respeito. Exigir o respeito pela diferença não confere o direito de impor aos outros os próprios caprichos e as próprias manias.
5. É na família que tem de começar por haver regras. Regras entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos. Regras que se estendem à sã convivência com os vizinhosTambém na escola é imperiosa existência de regras. Educar também é mostrar como as regras são necessárias e como todos as devem observar, também quando lhes não agradam ou lhes não convém.
Regras devem existir em todos os setores da atividade humana. E quem na sociedade tem mais responsabilidades deve ser o primeiro a observá-las.
A existência e observância de regras exigem o regresso da autoridade. Autoridade que deve ser exercida com a humanidade e a firmeza aconselháveis.
6. Nas diversas modalidades desportivas há igualmente regras que todos os participantes devem saber observar.Que o sucedido em Alcochete contribua para que os responsáveis abram os olhos e atuem em conformidade.Não nos devemos habituar à aldrabice, à corrupção, aos jogos sujos, ao desrespeito pelas pessoas.
Também no futebol, que se sobrevalorizou, a dignidade da pessoa humana deve estar acima dos lucros que proporciona. A dignidade do ser humano não deve permitir convertê-lo em objeto de compra e venda. O desejo legítimo de vencer não deve permitir que se recorra a manobras fraudulentas. Todos os competidores são seres humanos. Não é legítimo considerá-los inimigos nem tratá-los de qualquer maneira.
Habituarmo-nos à arbitrariedade, à violência, ao vale tudo, não. Há princípios e valores que não devem ficar à margem dos recintos desportivos.
Autor: Silva Araújo
Habituar-se ao mal, não
DM
24 maio 2018