O dólar é a América e com um dólar fraco a América é fraca, pensa ele. Gosta de farroncar e por isso quer e deseja voltar a ter uma América senhora do mundo e referência de estatuto de maioridade que ele, aliás, encarna em pose e atitudes; traumas mal curados, ódios reprimidos, vinganças ocultas? Putin continua a pensar que poderá ser o Czar de todas as Rússias, ressuscitando em si, e chamando à sua personalidade, a dimensão imperial que foi verdade e espelho na URSS.
A um e a outro se opõe a velha Europa, senhora de princípios democráticos que repudiam para si e para os seus povos, os princípios autocráticos destes dois ditadores modernos. Assim será com Marine Le Pen. Mas a Europa está coxa, caminha de uma maneira pouco saudável, tendo esquecido aquilo que era a moral da sua existência: a solidariedade, solidariedade que foi substituída pela contabilidade e supremacias nacionalistas, isto é, a supremacia de uma Europa unida, versus a supremacia dos nacionalismos.
Todos sabem que a Europa está vulnerável. O apoio e os elogios ao Brexit dado por Trump, à deslumbrada primeira-ministra inglesa Theresa May, é a prova mais que evidente do que quer o presidente dos Estados Unidos da América. Ele sabe que se outros países saírem, a Europa desaparece e o dólar e a América mais depressa atingem a grandeza que ele sonha e muito almeja. Como todos aqueles que se julgam predestinados, sofrem das paranóias dos desígnios salvatérios.
Vladimir Putin alinha neste desejo, isto é, no desmembramento da Europa, porque fica livre de um poder que se lhe opõe; sem ela passa a poder estar em roda livre para repetir, quem sabe, outras invasões iguais à da Crimeia.
As fronteiras europeias com a Rússia passariam a estar em contínuo sobressalto. E ele, Vladimir Putin, sempre acusará os outros de iniciativas bélicas. É um ator, mas um ator perigoso. Embora por motivos diferentes, mas irmanados entre si por uma ideia comum: acabar com este bloco europeu que se lhes opõe.
A Europa parece começar a entender este jogo e muito mal irá aos seus políticos se não podem, ou não sabem, contrariar este jogo soviético/americano. Para já apenas estes. François Hollande já espirrou, já disse que o sr. Trump precisa de respostas a todas as suas desvairadas políticas, mas não vi mais ninguém chegar-se à frente para fazer frente, substantivamente, ao presidente da América. São horas de despertar se não querem, ao acordar, encontrar em vez do sonho de uma Europa unida, um pesadelo de uma Europa de nações, à mercê das políticas Putin/Trump, quiçá Marine Le Pen.
Quem, na verdade, comanda esta Europa contra estes dois ou três pretensos coveiros da Europa Unida? Tem-se dito que a Europa não tem um líder para a dirigir e, pelas tibiezas de atitudes que temos observado, infelizmente assim parece ser. Mas é nas adversidades que normalmente aparecem os grandes líderes; espero que ele apareça de imediato porque, pela vertigem que leva a política Trump e seus “putativos aliados” todos os dias são ontem; amanhã pode servir para lamber feridas.
Lamento que quem tem olhos que alcançam muito mais ao longe que os meus, estejam a enxergar tão perto. Se a Europa se unir contra estes, então é verdade que há males que vêm por bem. Se a Europa continuar a ser mais contabilista que humanista nunca será holística, isto é, nunca compreenderá que o todo é mais importante que a soma das partes. Eis a dicotomia.
Autor: Paulo Fafe