twitter

Guerra do Ultramar - Quem combatemos em Angola

Mesmo que fosse, apenas, para vingar o macabro genocídio perpetrado em março de 1961 no norte de Angola sobre brancos, mestiços e negros, justificava-se plenamente o sacrifício humano e económico da nossa presença nesta possessão ultramarina; e, sobretudo, porque por detrás deste quadro de atrocidades movia-se um movimento político vindo do exterior e a soldo de organizações comunistas que visavam a expulsão dos europeus de África, a fim de os substituir.

Este movimento com sede em Adis Abeba denominado OUA - Organização de Unidade Africana – lançou em terras angolanas a UPA - União dos Povos de Angola –, autora da chacina que era chefiada pelo português A. Holden Roberto, nascido em Angola mas residente no Congo; e a justificação das nefastas intenções do movimento está bem explícito na carta-circular que acompanhou a eclosão dos trágicos acontecimentos no Norte, a saber:

Viva a UPA! Viva Nikita! Viva Angola! Tereis que dar dinheiro, muito dinheiro para apoiar o nosso ilustre amigo Patrício Lumumba. Já entregámos ao senhor Lumumba cinco milhões os quais lhe permitirão, sem dúvida, obter os meios necessários para conquistar o poder e libertar Angola. Em poucas palavras, o nosso plano para o futuro: Seku Toré deverá reinar na parte norte de África, o camarada N'Krumá, no centro e este vosso servidor, no sul. Esperamos que o nosso camarada Lumumba nos ajude a realizar o nosso destino. O futuro, aliás, está a ser forjado. É preciso não acreditar em boatos. O comunismo não é uma má coisa. Quando estivemos em Moscovo vimos ali coisas magníficas que os ocidentais nunca terão. Preparem as armas... vamos abrir fogo... não temos receio pois a Rússia nos dará armas e Lumumba ajudará a UPA. Matem os brancos que Lumumba já deu ordem. Viva o comunismo!

Este documento é bem elucidativo das razões que presidem ao movimento subversivo em Angola: instalação do comunismo e destruição da civilização cristã e cultura europeia; e, assim, a UPA, com sede no Congo, deteve até 1965 o comando da subversão e da luta armada, nunca lhe sendo negado o necessário apoio exterior em homens, armas e unidades de instrução.

Porém, como os resultados objetivos da sua luta armada pouco alcance granjeavam e a organização, prestígio e dignidade dos elementos do partido ineficientes eram, houve quem apresentasse queixa de Holden Roberto na OUA; e os argumentos frisavam que ele se passeava em luxuosos carros e desbaratava o dinheiro concedido à organização com bonitas congolesas e em cúpidas festanças.

Ora, sendo-lhe negado, quase em absoluto, apoio e autenticidade, a UPA perde terreno e toma-se incapaz de concretizar as intenções comunistas em Angola, sendo, mais tarde, substituída pela FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola - tendo como comandantes Mário Pinto de Andrade e Daniel Chipenda; e, assim, as nossas tropas infringem-lhe pesadas baixas, desacreditando-a perante os seus protetores e apoiantes, permitindo que o MPLA - Movimento Popular para a Libertação de Angola - em crescente implantação no terreno, tomasse a liderança da luta armada.

Partido jovem e bem estruturado, o MPLA pelas suas avançadas técnicas de guerrilha e organização, chama a si todo o apoio que à UPA começa a ser negado: fundado por Agostinho Neto, nascido em Angola mas radicado igualmente no Congo, é para nós um precioso auxiliar na medida em que, tentando destronar a UPA perde tempo, armas, munições e homens que podiam ser empregues contra nós e vão-se, assim aniquilando mutuamente, permitindo que melhor nos organizássemos para combates mais eficientes e destruidores.

Contudo, o MPLA não deixa de se manifestar, frequentemente, com violência em assaltos, emboscadas e flagelações, sempre com métodos aperfeiçoados de guerrilha; e para isso contribuiu um quadro de guerrilheiros, jovens combatentes, na sua maioria de ascendência cubana e chinesa; além, disso, dispõe para a sua propaganda política e militar do programa Angola Combatente na rádio Brazzaville que usa modernas e poderosas técnicas de guerra psicológica, de subversão e aliciamento das populações contra os designados colonialistas e fascistas portugueses.

Perto dos finais da época de 60 (1966), surge na parte sul e leste de Angola a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - chefiada por Jonas Savimbi que não goza do reconhecimento, simpatia, forma e organização do MPLA; e, por isso, não conseguem entre si um objetivo comum para a luta armada, fragilizando-se e dificultando as próprias ações no terreno e, inclusive, guerreando-se mutuamente.

Em conclusão, estes ditos Movimentos de Libertação que combatemos em Angola viviam do apoio externo, maioritariamente da Rússia, Congo, China, Cuba e Estados Unidos da América, em termos económicos e militares (armas, munições e instrução) e não gozavam da simpatia e apoio da maioria do povo angolano; e mesmo nós, aguentando a reprovação e condenação da ONU, conseguimos dominar uma guerra de guerrilha durante 13 anos e em três frentes (Angola, Moçambique e Guiné) e a que, somente as manobras politicamente tendenciosas e militarmente falaciosas praticadas na secretaria, logo a seguir ao 25 de Abril, puseram termo; e, deste modo, o prometido sonho de libertação do colonialismo e do fascismo ao povo angolano, moçambicano e guineense ainda não passou de um enorme pesadelo de guerra, medo, repressão, exploração, fome e miséria que já duram há 46 anos.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

DM

21 abril 2021