Como tem sido noticiado nos últimos tempos, a Guerra da Ucrânia vai completar um ano no próximo dia 24 deste mês de Fevereiro. E não pode deixar de lamentar-se que um país mais forte e poderoso, julgando talvez não encontrar grandes dificuldades em realizar uma “Operação militar especial”, como lhe chamou o seu principal executor, fizesse uso das suas forças para atacar uma nação que tem resistido duma forma corajosa.
Segundo estimativas recentemente publicadas, as vítimas militares, de parte a parte, neste confronto bélico, não andam muito longe das 280.000. Mas tanta mortandade, que deveria certamente fazer repensar no que fez a quem motivou esta guerra, parece que não atormenta muito os seus iniciadores, ainda que, há pouco tempo, um importante membro do elite bélica dos russos, tenha manifestado o desejo de se restabelecer a paz. Mas como? Isso não explica.
Da iniciativa agressora não parece que o seu promotor tivesse pensado muito profundamente nas consequências do que ia fazer. Pelo contrário: dá ideia que, para ele, tudo se passaria em pouco tempo e que a invasão das suas tropas, que deixou o mundo surpreso, poria cobro a qualquer foco de resistência. Ou melhor: não encontraria resistência, ou seria, apenas, pontual... Enganou-se redondamente. Queixam-se os russos, ou melhor, Putin e os seus apoiantes, de que tudo teria um fim rápido e sereno, se as nações ocidentais, nomeadamente as mais poderosas, não tivessem socorrido os ucranianos, com equipamento e apoio bélico que tem, de facto, conseguido contrariar a “Operação militar especial”.
No fundo, este nome hoje em nada corresponde ao que se está a passar. Os russos não provocaram, com a sua invasão, um simples passeio das suas forças armadas. São os causadores de uma guerra, que já custou aos seus militares muitos milhares de vítimas, como atrás se referiu, e os obrigou a recrutar recentemente, entre a juventude da sua pátria, uma grande leva de novos soldados, a fim de conseguir, de alguma forma, escamotear o insucesso militar da sua iniciativa. O futuro dirá como tudo terminará.
Nos últimos dias, certamente que as autoridades do Kremlin se sentiram mais uma vez inquietadas com o auxílio estrangeiro aos seus adversários. Concretamente, os USA decidiram ceder aos ucranianos mísseis de longo alcance. Ou seja, o conflito está a tornar-se num desafio cada vez mais duro e as consequências destas concessões vão causar mais problemas aos militares russos. Mas o seu chefe máximo declarou que tem capacidade de resposta semelhante entre o seu arsenal bélico.
É óbvio que os países ocidentais não querem provocar um conflito mundial com o apoio que estão a dar ao país invadido. Mas é óbvio também que não podiam ficar indiferentes perante as ideias expansionistas do chefe de Moscovo. Ataca um país vizinho para o “desnazificar”, cometendo a mesma prática de Hitler, quando invade a Polónia. Inventa países novos sem que nenhum organismo sério mundial tenha dado seu aval. Realiza, nesses locais dominados pela sua força e a toda a pressa, referendos, que são revistos e aceites só por ele e pelos seus apoiantes, para confirmar a licitude dos novas nações. É uma autêntica sátira democrática o que Putin tem mostrado ao mundo.
Aliás, não nos devemos estranhar com estes procedimentos da parte de Putin, quando recordamos que a sua visão política do mundo e da vida foi assimilada por si, enquanto membro da KGB, a polícia política do regime comunista, que morreu de velhice. Essa polícia prendia, torturava e não permitia a livre circulação de ideias entre os cidadãos da antiga União Soviética. É, pois, natural, que alguma saudade e deficiência na visão democrática de Putin esteja relacionada com o que aprendeu na KGB. A sua acção nesta guerra, que ele pretendia apenas ser – repetimos – uma “Operação Militar Especial”, provém dum ponto de partida de quem não respeita uma nação vizinha. É preciso mudar-lhe o rumo e pôr de parte quem a governa, porque não se coaduna com os desejos e objectivos da sua política? Ocupa-a militarmente, para limpá-la de todos os que contrariam a visão que ele entende.
Putin pensava talvez que os países ocidentais ficariam quietos com essa iniciativa. Enganou-se e isso tem custado à Rússia manter uma guerra. Vamos a ver quando e como é que ela termina. Já enlutou cerca de 180.000 famílias russas e 100.000 ucranianas, ou melhor, 130.000 do país invadido, porque é preciso acrescentar ao número de militares mortos, 30.000 vítimas de civis. Mas, note-se, independentemente da ajuda que o Ocidente tem prestado, a resistência ucraniana é o seu principal factor.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva