Vi fechar aquela e o nascer desta em Gualtar. Gualtar, porém, não soube aproveitar as últimas décadas de exponenciação da Universidade. Aquilo que seria tido como uma bênção transformou-se, em razão da inércia e passividade, numa entorse.
Gualtar viveu estas últimas décadas à custa da Universidade o que, valha a verdade, mal não teria caso tivessem retirado partido das potencialidades desta realidade.
Viveu-se numa relação dual perversa, à sombra do crescimento da Universidade, sem se saber lidar com os entraves e bloqueios que também trouxe à mobilidade, ao tráfego, ao urbanismo.
A ideia que perpassa é que se considerou que tudo se iria resolver por si!
Aquilo que podia transformar Gualtar numa das freguesias mais dinâmicas acabou por a deixar cristalizar e degradar!
Cresci com a destruição e desorganização urbanística, alicerçada em entendimentos de gestão urbana, ambiental e cultural míope, anacrónica, sem vislumbre de qualquer iniciativa que a tal objectasse.
Deixaram que se escrevessem páginas escritas a negro de um crescimento desmesurado e errante!
É uma freguesia que pulula em tempos lectivos e morre fora deles.
Não se criaram sinergias, os vínculos necessários ao aproveitamento das externalidades da implantação do polo universitário.
Tornou-se numa freguesia dormitório, satélite, desordenada, betonada, chamada por muitos de “arredores de Braga”, que não logrou encontrar a simbiose perfeita com este domínio e estrutura física e imaterial de excelência com que foi brindada e nasceu no seu seio.
E se assim é com Gualtar, assim é com os gualtarenses, que não vivem, não respiram (com excepção de aqueles que, como eu, tiveram a possibilidade de aí se formarem exemplarmente) este centro de excelência.
Não se absorveram o saber, as vontades, o fazer e o conhecimento.
Gualtar, tão-só, mantém a sua faceta de um quarto que se arrenda, um espaço onde é mais próximo habitar, um estacionamento ou por onde se passa para chegar ao campus.
Gualtar não tratou esta dádiva como um polo aglutinador e de possibilidades de mudança de qualidade, antes virou costas!
Gualtar ficou com os problemas que são externalizados pela grandeza da Universidade do Minho e ignorou a positividade do que aquela expira.
Alheou-se do que melhor aquela pode oferecer.
Não quis, ou não soube, respirar a vivência científica, cultural, desportiva e formativa da academia.
Esta podia ter sido a mola propulsora para uma freguesia de dinamismo e excelência que se estenderia muito para além dos seus muros.
Existe, aliás, uma fronteira invisível da Universidade do Minho para Este da freguesia.
Muito tempo foi perdido, muitos entorses são já de difícil reversão, mas espera-se que a freguesia e os seus cidadãos (residentes, visitantes, proprietários, trabalhadores, estudantes ou simplesmente os que gostam de Gualtar) logrem trazer para o centro esta mais-valia, transformando e construindo uma nova Gualtar alicerçada neste núcleo que nasceu e vive aos seus pés!
Dar azo a uma nova centralidade de Braga.
Há que criar uma freguesia sustentável, que oferece qualidade de vida aos seus integrando no seu meio (a todos os níveis e através de uma série de veias comunicantes) a Universidade do Minho.
Ainda há tempo, se os gualtarenses e Gualtar unirem esforços com esta nova onda de globalidade e efervescência que Braga respira, assente em vários eixos interlocais e internacionais que geoposiciona a cidade como centro vivo, multicultural e multinacional.
Assim se saiba fundar uma nova oportunidade de ouro. Gualtar não pode retirar da Universidade e quedar-se, apenas, com a toponímia do campus. Urge, pois, mudar este paradigma relacional entre a freguesia e a academia!
Autor: António Lima Martins