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Glaucoma sem segredos

O glaucoma é uma doença do nervo ótico que representa a segunda principal causa de cegueira no mundo e a primeira causa de cegueira irreversível. Estima-se que em Portugal atinja cerca de 200 mil pessoas e seja responsável por 8 mil casos de cegueira. A designação de glaucoma é dada a um grupo de doenças que têm em comum a degeneração do nervo ótico.

O nervo ótico é a estrutura nervosa que une o olho ao nosso cérebro e é um veículo para a informação visual captada pelo olho. Cada fibra deste nervo transporta a informação visual correspondente a um pequeno local da retina. Ao chegar à área visual do cérebro, a informação trazida pelas diferentes fibras nervosas, conjuga-se e é formada a imagem que vemos.

À medida que a doença do glaucoma evolui, pequenas áreas do espaço que vemos deixam de ser captadas. A perda visual é indolor, progressiva e irreversível, havendo em casos avançados compromisso da autonomia visual do doente.

O glaucoma pode surgir em qualquer idade, mas a incidência aumenta a partir dos 40 e em alguns grupos de risco, tais como: hipertensão ocular; história familiar de glaucoma; raça negra/asiática; diabetes; alta miopia; inflamação e trauma ocular; uso prolongado de corticoides e doença vascular.

Dada a irreversibilidade das lesões instaladas, o diagnóstico precoce é fundamental. Infelizmente, o glaucoma é quase sempre assintomático até fases avançadas da doença, estimando-se que apenas 50% dos indivíduos com glaucoma saibam da sua existência.

A perceção tardia da doença ocorre, pois: a hipertensão ocular é assintomática; os defeitos no campo visual surgem lentamente só são detetáveis por exames quando cerca de 40% das fibras do nervo já foram afetadas; existem mecanismos cerebrais que disfarçam os défices visuais instalados, tornando-os impercetíveis até fases tardias da doença.

A melhor forma de detetar o glaucoma em fase precoce é através da realização de consultas periódicas num médico oftalmologista. É fundamental uma análise cuidada dos fatores de risco de cada paciente, uma observação clínica e a realização de alguns exames, para um diagnóstico exato.

Apesar de não existir cura definitiva para o glaucoma, a eficácia dos tratamentos existentes (medicação, laser e cirurgia) habitualmente atrasa ou inibe suficientemente a progressão da doença, de modo a esta nunca afetar a vida do paciente. O principal objetivo dos tratamentos é a diminuição da pressão intra-ocular.

O tratamento não melhora a visão, mas impede a sua deterioração progressiva que em última instância poderia resultar em cegueira completa e irreversível. O tratamento costuma ser iniciado com um ou vários colírios aplicados uma a duas vezes por dia. A terapêutica laser ou cirúrgica é habitualmente reservada para casos não controlados com medicação.

Aqui ficam alguns conselhos a reter: faça exames visuais regularmente num médico oftalmologista; conheça os fatores de risco para glaucoma; se tem glaucoma, informe os seus familiares para que estes possam efetuar um rastreio precoce; não espere pelos sintomas da doença, pois estes surgem tardiamente e os défices instalados são quase sempre irrecuperáveis; apesar do risco de cegueira, se o glaucoma for detetado cedo e tratado de forma adequada este risco é reduzido. Atue atempadamente, pois pode fazer a diferença.


Autor: Nuno Lopes
DM

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25 maio 2018