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Futebol deformação ou… de formação

No início da semana que agora finda, ao acompanhar um jogo de benjamins e perceber nas redes sociais, treinadores e encarregados de educação a falar de sucessos desportivos, concluí que os campeonatos estão a terminar. Tentando compreender a realidade da época que agora finda, fui ver resultados e classificações após esta penúltima (em algumas séries, última) jornada.

Antes de mais, e cingindo-me apenas aos benjamins e infantis no futebol de 7, a existência de 309 equipas no conjunto dos dois escalões, diz bem do interesse que a modalidade suscita junto de crianças e… pais.

Fazendo as contas “por baixo”, se cada equipa tiver apenas 12 projetos de atletas, estamos a apontar para um universo de quase 3700 crianças a praticar futebol na região, o que, atendendo à crise demográfica e às diferentes solicitações existentes, mostra que a modalidade está viva e recomenda-se. Mas, recomenda-se mesmo?

Em catorze, das dezasseis séries de benjamins, os prováveis campeões conquistaram no mínimo 95% dos pontos possíveis tendo uma derrota ou… menos. Mas se desta simples leitura não podemos aferir a falta de competitividade existente na maioria dos jogos, já o número de golos marcados/sofridos, ajuda.

De entre os putativos campeões, o mais goleador marcou 270 golos (média de 14 por jogo) e o mais comedido, em média, 6 por jogo. Caso para dizer, não te preocupes CR7, o teu reinado está prestes a findar mas, em Braga, há dezenas de substitutos…em potência. E se estes números incomodam, há outros também preocupantes.

Nos benjamins, quarenta e nove equipas sofreram mais de 100 golos (média superior a 5 golos por jogo) com algumas, a sofrer em média 12 golos por jogo. Nas 16 séries, há ainda 7 equipas que não conseguiram uma vitória sequer.

Se eu tivesse um filho, benjamim, que gostasse de futebol, teria desejado que a equipa dele jogasse na série F onde o campeão, nos 20 jogos, conquistou 16 vitórias e sofreu 4 derrotas, (106 golos marcados e 46 sofridos) enquanto o último classificado com 2V-4E-14D, marcou 53 golos e sofreu 96.

Pelos extremos, percebe-se que houve competição ao longo do campeonato, pois nenhuma equipa sofreu o dobro dos golos em relação aos marcados e apenas as três primeiras, têm pouco mais do dobro de golos marcados, em relação aos sofridos. E, se todas as séries fossem assim?

Penso que está na hora de todos os intervenientes neste processo, A. F de Braga, clubes, árbitros, treinadores e… pais, se sentarem, discutirem e perceberem se interessa a alguém este processo (de)formação que se arrasta e repete, ano após ano.

Os melhores não evoluem e retardam a aquisição de competências base, necessárias e fundamentais nos escalões superiores, e os menos aptos, com a frustração das goleadas acumuladas, a curto prazo, tenderão a abandonar a modalidade.

Não sou fã da estatística, pois, principalmente no futebol, ela não explica tudo, mas os números que deixo acima, bem espremidos, podem, e devem, mostrar-nos o caminho a seguir. Assim todos o queiram.


Autor: Carlos Mangas
DM

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27 abril 2018