O desporto leva muitos anos de luta contra a fraude. Mesmo quando a única recompensa era a glória de uma vitória, os atletas procuravam caminhos fora da legalidade.
O festival de embustes aumentou exponencialmente com a chegada do dinheiro. O doping foi um dos elementos mais significativos a imperar na competição honesta.
Nos últimos tempos o desporto recebe uma nova forma de contaminação, a manipulação de resultados. As apostas provocam um segundo nível de enriquecimento de pessoas alheias ao desporto e aos próprios intervenientes.
A situação desmorona-se quando as apostas servem de veículo para o engano e chega à ilegalidade, a fixação de uma competição, o benefício de uns poucos ou de mafias organizadas que distorcem o desporto, incluso com apostas ilegais, as realmente perigosas.
Nos últimos tempos, os episódios de manipulação de resultados estão a repetir-se com uma frequência que preocupa os dirigentes de Ligas e Federações Nacionais e Internacionais.
Os casos mais atuais são os designados de “Apito Dourado” e mais recentemente o caso E-toupeira (e-mails roubados ao SL Benfica), onde o processo, como se sabe, investiga a utilização abusiva de credenciais informáticas na plataforma Citius de uma magistrada do Ministério Público (MP), que se encontra colocada na coadjuvação da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL), e, desta forma, recolher informação relacionada com processos, designadamente envolvendo o Benfica.
Neste último caso nem eram as quantias de dinheiro que estavam em causa mas sim Bilhetes para o futebol e ofertas de produtos de mershandising do clube.
O tema das apostas no desporto implica um risco. Mas a “rentabilidade” afasta os temores. E na atualidade, com as novas tecnologias, a aposta converte-se em global, massiva e apetitosa para os interesses de muitos.
O atletismo teve no passado a separação entre atletas amadores e atletas que competiam num mundo “profissional” ligado às apostas. Era muito mal visto, não só a aposta, senão receber qualquer quantia de dinheiro por uma vitória.
Essa época ficou muito para trás. Inclusivamente as apostas foram entrando pouco a pouco no atletismo, mais no mundo anglo-saxónico e países nórdicos que no sul da Europa por exemplo.
Evidentemente é fácil dizer que o dinheiro mancha tudo. Dopagem para ganhar mais e mais, manipulação de resultados para beneficiar-se através das apostas, atletas que se deixam ganhar para que outro ganha o prémio.
No entanto, as recompensas o dinheiro, o profissionalismo, as apostas, são compatíveis com a honestidade. Porque não? É necessário transformar essa cultura, má cultura do embuste e do engano.
O desporto está a ser marcado por demasiadas fissuras. Este não é o caminho da glória e do sucesso. Importa colocar os valores que o desporto possui, e são muitos, para que tenhamos uma atividade rica e com paixões mas no âmbito muito mais pedagógico e educativo, esperando que este último seja para o bem de todos e seja compatível com o desporto atual.
Autor: Luís Covas
Fraudes Desportivas
DM
21 setembro 2018