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Fotografamos tanto e vemos tão pouco!

  1. É natural – dir-se-ia até trivial – que, na vida, cada pessoa se conduza por si mesma.

A questão que se coloca – e a dúvida que se levanta – é se não estaremos a ser subjugados pelo nosso «eu».

  1. Evoca-se a liberdade e celebra-se a autonomia. Mas, pelo que se vê e pelo que se ouve, não correremos o risco de estarmos a ser aprisionados por nós mesmos?

Já em tempos se notava que a coacção interior não é menos inibidora que as coacções exteriores.

  1. Será que nos sentiremos livres centrados apenas em nós?

A autonomia é seguramente uma mais-valia. Mas uma autonomia (unicamente) «egónoma» será uma ajuda ou não constituirá um obstáculo?

  1. Aprendemos que a verdadeira liberdade foi-nos oferecida por Jesus Cristo (cf. Gál 5, 1).

Tal liberdade não coage a nossa autonomia; pelo contrário, fortalece a nossa identidade.

  1. Porque é uma liberdade que (se) dá, a liberdade trazida por Cristo integra – e valoriza – o «eu» dos outros.

É, pois, uma liberdade que se estende e não uma liberdade que se encolhe.

  1. Daí que uma «autonomia cristónoma» (centrada em Cristo) abra mais horizontes de liberdade que uma mera «autonomia egónoma» (enquistada no «eu»).

É isto que falta perceber. É isto que urge vivenciar.

  1. A actividade turística – tão benfazeja – está a destapar alguns comportamentos fortemente marcados por uma tortuosa «autonomia egónoma».

Como é possível que tantos consigam sair para tão longe e não sejam capazes de sair de si?

  1. Nos últimos tempos, tem crescido o incómodo perante a ligeireza – a beirar a indiferença – que alguns mostram em locais onde o sofrimento humano atingiu proporções ilimitadas.

Até em Chernobyl ou Auschwitz, a primeira – e, muitas vezes, única – preocupação é fazer «selfies» com ar descontraído para exibir no ecrã.

  1. Nem em lugares onde milhões de seres humanos perderam a vida parece haver um momento de recolhimento ou um indício de comoção. Tudo é decidido por cada um sem pensar no efeito que possa haver nos outros.

O mesmo se passa, aliás, em muitos locais sagrados. Há quem não hesite – mesmo com celebrações a decorrer – em multiplicar fotos em série.

10 Para quem não tem fé, não deveria prevalecer o respeito por quem está a celebrar a fé e só pede um pouco de recato para viver o que celebra?

Mas quem pensa nos outros como outros? O problema é que tanto queremos fotografar que mal chegamos a ver aquilo que fotografamos!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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9 julho 2019