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Formar ou capacitar? De que serve ter uma cana, quando nem sequer sabemos pescar?

É cada vez mais evidente a crescente aposta das entidades no investimento na formação profissional, quer pela sua obrigatoriedade legal, quer pelo valor que esta pode acrescentar às atividades profissionais dos seus colaboradores.

De facto, a formação poderá ser encarada como um fator de otimização das tarefas executadas no âmbito da vida profissional e pessoal dos colaboradores. Profissionais instruídos e bem preparados são pessoas seguras das suas capacidades, traduzindo-se isto, num forte sentimento de realização e num maior compromisso emocional para com o seu trabalho.

No entanto, existe atualmente o que julgo ser uma espécie de banalização sobre a pertinência da adequação da formação aos formandos, subsistindo uma ligeira negligência acerca das reais necessidades de aprendizagem dos sujeitos.

Não contesto a ideia de que a formação é sempre uma mais valia, acarretando sempre algum proveito para os formandos, mas, ainda assim, considero que uma adequação das temáticas e conteúdos ministrados, pode refletir-se num maior benefício para os formandos, quer a nível individual, quer coletivo.

Para facilitar o entendimento desta problemática, inspiro-me numa comparação referida várias vezes durante o evento Open Talk, da F3M, que decorreu há uns dias no Fórum Braga: a pesca.

Um bom pescador deve conhecer o peixe, deve saber manusear a sua cana, deve saber como agir quando o peixe morde o anzol. Pois bem, o mesmo acontece com um bom profissional: deve possuir conhecimento, deve saber fazer/agir e deve saber estar perante as situações e do seu trabalho.

É importante assegurar que a formação é sobretudo útil para o desempenho profissional dos sujeitos, sendo os cursos concebidos com foco no superior interesse dos formandos, tendo em conta o seu perfil, as suas necessidades, os seus contextos e vivências profissionais reais.

A alternativa passa por ir além do "formar pessoas", procurando acima de tudo "capacitar pessoas".

O termo "formar" não deve ser equiparado ao termo "capacitar", até porque "capacitar” é ir bem mais longe do que “formar”. “Capacitar” é criar e promover competências e aptidões para agir. É dar às pessoas a aprendizagem necessária para um melhor desempenho das suas tarefas, garantindo-lhes maior eficácia nas suas atitudes e decisões no trabalho.

Em suma, aludindo novamente à actividade piscatória, “capacitar” é ensinar um simples ser humano a compreender o comportamento de um peixe, percebendo este que colocando a cana estrategicamente, escolhendo os timings adequados para se movimentar, e conhecendo perfeitamente as águas em que o animal se movimenta, o jantar ficará garantido.

Pescar não será uma perda de tempo, mas sim uma atividade compensatória, capaz de gerar um agradável e útil retorno.

A escolha dos cursos de formação deve ser uma decisão consciente e refletida, procurando a adequação e utilidade do tema.

Afinal, de que nos servirá ter uma cana, quando nem sequer sabemos pescar?


Autor: Ana Rita Gonçalves
DM

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23 junho 2018