Há mais de quatro décadas, quem nos tem governado e quem nos governa? Quem doutorou, engenheirou e arquitectou essa gente, atribuindo-lhes as respectivas licenciaturas? Foi o Estado Novo, claro, salvo uma ou outra excepção. Mas praticamente todos, esqueceram com a Abrilada, a noção de servir, o dever de estadistas, da solidariedade e do bem comum. Estes consumistas de democracias, das novas oportunidades aos golpes-de-mão, dos altos salários sem trabalho, do viver rapace onde o dinheiro existir, entre muita incompetência e imprudência, apenas envernizam algo – apresentando novos rostos a tudo – e, o povo ingere.
Há dez anos, num artigo sobre fogos em Portugal, apontei que as Forças Armadas deviam ser chamadas ao combate de fogos. Dois ou três anos depois isso aconteceu. Recorde-se que no tempo do Estado Novo, havia a Guarda Florestal, que controlava, vigiava e zelava pela floresta. Ora os Abrileiros que já foram e os que o são hoje – entre outras “renovações” – anularam a Guarda Florestal: acabaram com eles, “porque nada faziam, batiam-se a gorjetas e prendas, e fechavam os olhos a passantes organizados”, diziam. Então, tal “renovação”, foi arranjarem jovens voluntários que, de binóculos em riste e nos pontos mais altos da floresta, “vigiavam”.
Assim sendo, conclui-se que os políticos que já nos governaram e os que agora têm governado, têm sido inertes, com incompetência e desinteresse por tudo o que seja valorizar Portugal. Valorizar as suas (deles) comodidades, sim; engordar as suas contas bancárias, sim; viverem luxuosamente em belos imóveis e transportados em carros topo de gama, sim, e muitas mais vezes sim!
Pedrógão Grande – seus mortos, feridos e desaparecidos pelo fogo – vive agora com diversos nomes: inércia, marginalização social, ignorância, e muito mais, semeados pelos políticos. Razões suficientemente gravosas, que deviam levar este Governo de António Costa a demitir-se, ou no mínimo, a serem demitidos os ministros directamente ligados ao desastre de Pedrógão Grande, por tanta miséria junta. Aliás, tal atitude de demissão, fê-la Jorge Coelho do PS, no desmoronar da ponte de Entre-os-Rios, que causou dezenas de mortos.
Ninguém tem dúvidas neste país, dos grandes interesses económicos, interessados na continuação dos fogos em Portugal. Madeireiros, bombeiros (um ou outro), empresas de celulose e muitos outros, bem como a continuação de corrupção no sector, tudo serve para o “negócio” com incendiários e canalhas, que nos reduzem a cinzas.
O ano tem doze meses. Pode-se considerar – para efeito de fogos – nove meses de Inverno e três de inferno. Entendo que o Estado resolve o problema dos fogos se quiser, e dispensavam-se de foguetadas com sabor a lágrimas de crocodilo às televisões, canais especializados no terrorismo de imagens e na actuação-carraça das mesmas notícias.
Assim, colocaria o Estado, nos locais mais sensíveis, número suficiente de bombeiros que trabalhassem nesses nove meses de Inverno nas florestas, preparando-as e protegendo-as dos ataques do fogo, nos tempos de inferno. Ao lado destes profissionais, as Forças Armadas, uma vez que são do povo e pagos pelo povo; nessas limpezas florestais, colocariam os presos também, para justificarem a cama, a mesa, a roupa lavada, a televisão e o médico que os assiste semanalmente. Finalmente, era de todo importante e urgente, reactivar a Guarda Florestal, mesmo que em prejuízo do número de efectivos da PSP ou da GNR. As vilas e as cidades, não precisam de tantas forças policiais, como polícias municipais, por exemplo. Para a caça à multa dos automobilistas ou para rebocar carros em transgressão, bastam alguns. Desse modo, com tal programa, nesses três meses de inferno, os fogos estariam bem mais difíceis de acontecer.
Os portugueses estão cansados de fogos e de foguetadas dos políticos nas televisões. Não chega aparecerem junto da desgraça dos desgraçados. Melhor seria não aparecerem, pois estorvam: desviam a atenção de quem luta no terreno e ocupam tempo aos comandos e aos organizadores do ataque às chamas. Basta! Ou então demitam-se!
(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).
Autor: Artur Soares