Vivemos, na última semana, provavelmente a noite mais trágica de que há memória recente no Norte de Portugal, mas também por todo o território nacional.
É um ano marcado pela partida “injusta” de mais de 100 portugueses e portuguesas, vítimas do fogo e da sua destruição.
Deflagrarem, no mesmo dia, mais de cinco centenas de incêndios demostra bem a catástrofe natural sofrida neste último momento e trará, nos próximos tempos, inúmeros malefícios a todas as comunidades.
O nosso símbolo nacional, o Pinhal de Leiria, é o espelho de uma noite que ficará na página negra de Portugal.
Mais uma vez, perante este cenário de destruição, o nosso povo mostrou solidariedade, entrega, coragem, humanismo e espírito nacional. O trabalho de todos os Bombeiros foi incansável e heróico. As inúmeras campanhas ocorridas no imediato da tragédia são imagens que jamais esquecerei. E as manifestações de pesar organizadas após calamidade provam que a nação está triste, desolada, mas muito atenta a tudo o que se passa com estes fogos florestais e exige, naturalmente, respostas e soluções.
São muitas as causas que podem estar associadas a estes fenómenos. As naturais (numa percentagem quase insignificante) e as devidas à mão humana, onde se incluem os atos criminosos, mas também a negligência de alguns proprietários de terrenos e matas.
Tanto a diminuição da população nestas áreas geográficas como o envelhecimento de quem lá permanece é já um fator de alto risco para que os incêndios ocorram.
Ouvi com muita atenção o discurso do nosso Presidente da República em relação a estes acontecimentos, e à obrigatoriedade e necessidade de não deixar a culpa morrer sozinha, perante tamanha injustiça com os que partiram e os que ficaram e sofrem com tudo isso. Concordo em absoluto e faço votos para que o mesmo se suceda.
Que fogo é este que todos vemos, que nos incomoda, que rouba vidas, que destrói famílias, mas que ao mesmo tempo é invisível e cai no esquecimento e num vazio?
Haja coragem política nacional e investigue-se se há quem ganhe “imoralmente” com estes incêndios. E se a resposta for positiva (penso que ninguém tem grandes dúvidas que isso acontece), aplique-se a justiça. Surja legislação que obrigue a catalogar quem compra madeira queimada e que circuito utiliza para tal. Vejamos igualmente, e com coragem, quem tem interesse na fuga das populações para o litoral e no abandono do interior.
Todos temos o dever de preservar a maior riqueza que existe no nosso país: a natureza! E, para isso, todas as ações são importantes. O ordenamento territorial, as limpezas das matas, a prevenção e, mais importante, a educação para as florestas.
É crucial estimular os jovens para a riqueza do nosso território e para a necessidade da sua preservação. Os conteúdos programáticos das nossas crianças e jovens devem dar mais tempo a estes assuntos que, no futuro, farão toda a diferença numa consciência nacional territorial.
Em Braga, numa ação conjunta entre o SYnergia, Instituto Português do Desporto e Juventude e Pelouro do Ambiente da Câmara Municipal de Braga, um projeto de prevenção e educação para as florestas será levado a cabo nas escolas. Não resolverá certamente o presente, que depende mais de vontades políticas e ações concretas, mas ajudará certamente no futuro destas gerações.
Autor: Ricardo Sousa
Fogo “silencioso”…

DM
24 outubro 2017