Oque me leva a escrever hoje – um livro autobiográfico de um jovem adulto que conheci enquanto aspirante a futebolista em 2010 (era eu coordenador da formação do SCB) que surgiu a treinar à experiência nas Camélias com o selo de qualidade de ter estado dois anos na Academia de Alvalade.
Juntamente com a equipa técnica do grupo que ele iria integrar, observamos “o artista” que logo se destacou por um manancial de fintas e descaramento futebolístico, que nos fez olhar uns para os outros a tentar perceber o porquê de tão talentoso jogador não servir… ao Sporting. Algum defeito há de ter, pensamos.
Mas nas captações procuramos virtudes, e ele destacava-se pela relação com a bola, velocidade de execução e… descaramento, que cada vez existe menos no futebol robotizado, já na formação.
Sendo atleta de 1.º ano de juvenis, caso a evolução acontecesse de acordo com o que perspetivamos nesta primeira observação, até poderia integrar a equipa de juvenis A, no nacional.
Percebi que tal não iria acontecer, no decurso do campeonato, quando “o artista” se lembrou de fintar meia equipa adversária e na linha de golo em vez de marcar, decidiu voltar para trás, para fintar mais alguns. Não deu golo, o que para o caso era de somenos importância, o problema era o foco individual em detrimento do coletivo.
Pois bem esse rapaz que o mundo do futebol viu crescer, em fintas variadas e permanentes e a quem era augurado futuro promissor, abandonou o futebol, mas assume ter retirado deste, um manancial de aprendizagens que decidiu aplicar no mundo empresarial. No entanto para que isto possa ter sucedido, foi fundamental o suporte familiar e a coexistência, naquele malabarista, de um aluno de excelência.
O chamado plano B que muitos futebolistas em potência esquecem, e a quem os pais, infelizmente, não dão importância também. “Foi neste momento que percebi a importância de ter sido um bom aluno e decidi o meu rumo – iria para a universidade”.
O bom aluno ingressou na Universidade e continuou a integrar equipas, mas agora liderando-as. Transformou-se em empreendedor mas não esqueceu o futebol, de quem numa carta de sentida, de agradecimento, se despede no livro autobiográfico.
Curiosamente, no livro surgem alguns nomes de amigos mais próximos do Diogo Melo (13/14 anos) em Alcochete: O Maxence, o Ricardo, o Miguel, o Farley. Reconhecem algum deles no futebol atual? Eu… também não.
A todos os Diogo(s) Melo(s) deste país que pensam deixar a família, os clubes de bairro e… “um futebol que os faz feliz, sem pressões, sem maldade, sem esquemas táticos a prenderem a criatividade”, um conselho: Leiam o livro e, cumulativamente, se puderem, vão ouvir o Diogo Melo, amanhã à tarde na Academia do SCB, em mais uma atividade da Cidade Europeia do Desporto.
Perceberão então que há fintas no futebol de formação que nos podem ajudar a singrar na vida, desde que a vida vivida na infância e adolescência não se cinja ao… futebol.
Autor: Carlos Mangas
Fintas, no futebol e na vida...
DM
18 maio 2018