O Programa de Formação que agora se inicia, intitulado “Filosofia para o Novo Século” planeado para seis semestres (2022-2025), tendo como destinatários o universo dos trabalhadores do Grupo DST, significa um reforço muito importante no conhecimento dos temas, das problemáticas, dos autores e das obras que compõem a assim chamada “cultura filosófica”. O número de horas previstas para a formação garante um caudal de informações diversificadas, atuais e representativas de todas as grandes áreas da filosofia. Porém, se esta componente informativa é deveras importante, mais importância atribuímos à operacionalização do outro objetivo central da formação: proporcionar a todos e cada um dos trabalhadores da DST a incorporação da atitude filosófica, ou seja, da prática do questionamento, da reflexão, da análise crítica, do conjunto dos instrumentos que permitem olhar de um ângulo diferente, pensar fora da caixa, antecipar e projetar o que os outros ainda não viram, mas também, duvidar e logo levantar outras hipóteses, inventar, ou numa palavra, ser criativo.
Um cérebro bem informado dará seguramente melhor conta das suas responsabilidades, dos deveres, dos seus atos… mas uma mente iluminada pela reflexão filosófica proporcionará ao indivíduo, ao técnico, ao gestor, ao vendedor, ao economista, ao engenheiro, ao arquiteto, aquela competência de ver mais fundo e mais longe, de analisar e de sintetizar, de intuir e de demonstrar, que levou Aristóteles a distinguir os que vivem da repetição, da replicação cega de uma tradição, dos que conhecendo as causas, os porquês e as finalidades, mostram a razão do que fazem e do que dizem. Deste último grupo, fazemos parte todos nós os que nos colocamos no exercício da filosofia.
Ora, a DST tem proporcionado, ao longo de vários anos e de modo sistemático, aos seus trabalhadores o acesso gradual a este patamar formativo, correndo o risco de até poder parecer que cultiva o desperdício em horas de formação do seu pessoal, em áreas que nada têm a ver diretamente com as suas especializações técnico-profissionais! E contudo, atrever-me-ia a dizer que a perceção filosófica que cada trabalhador vai formando do mundo, da realidade, não será alheia à excelência dos resultados que consecutivamente a DST vai obtendo nas áreas em que intervém, aos prémios que conquista, aos concursos que vence, no duro mercado nacional e internacional.
Mais acrescento que estas opções estratégicas da DST no domínio da formação dos seus quadros, faz dela, muito provavelmente a Empresa mais avançada na incorporação da Filosofia, no contexto do mundo laboral português, constituindo um excelente laboratório de análise da transferência e aplicação da Filosofia - ciência teorética e racional – à diversidade das atividades protagonizadas por cada um dos trabalhadores que opera no interior dessa organização. A prática da reflexão filosófica faz, então, o seu caminho, lento, mas paulatino, de moldar as mentalidades, muito especialmente, o âmbito das crenças, das atitudes e dos comportamentos, nos diversos sectores da empresa, incluindo as direções, no exercício das suas responsabilidades profissionais.
As correntes avançadas do “management” sublinham desde há algum tempo estes préstimos da filosofia. Alguns estudos recentes têm ido aí buscar a inspiração de novos paradigmas empresariais, de organização e de liderança, que têm sido aplicados com resultados que respondem às exigências e aos desafios do tempo complexo e desafiador que estamos a viver.
Por outro lado, esta parceria Filosofia/Empresa ou DST/FFCS tem-nos ajudado a nós, filósofos, a redescobrir o solo genuíno do filosofar, precisamente, a ligação entre o humano e a praxis, o “fazer” na sua diversidade de manifestações. Foi concretamente assim que o ato de interrogar se tornou inquietação filosófica, no preciso momento em que Sócrates dialogou com o “homo faber” do seu tempo, na figura do cidadão político, do artesão, do poeta, do carpinteiro, etc. Nesta linha, pretendemos que a parceria DST/FFCS seja o epicentro de um movimento de reflexão sobre a empresa, entendida como verdadeiro objeto filosófico. Um movimento aberto à região e ao país, para que se possa perceber que o segredo do sucesso empresarial também está… na FILOSOFIA.
É com este espírito que encaramos a formação que agora começa.
Uma palavra de agradecimento especial ao Sr. Eng. José Teixeira, cuja visão genuinamente ampla, versátil, e atual tem proporcionado e incentivado estas ações de formação. Aos formandos/as pela persistência e adesão ao projeto. À equipa da formação e dos recursos humanos da DST pelo seu profissionalismo. E um sincero agradecimento aos filósofos da Faculdade de Filosofia e Ciência Sociais da UCP que têm dado o melhor de si na concretização da formação.
*Intervenção no lançamento do Programa de Formação de Quadros do Grupo DST
Autor: Carlos Morais