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Fez 300 anos, a Maçonaria

  1. Em 1517, Lutero; em 1917, Lénine). Pelas razões que aduzirei, o ano de 1717 é considerado o ano principal (porque da “fundação”, da unificação), da importantíssima sociedade secreta que dá pelo nome de Maçonaria. É curioso o paralelismo de alguns “dezassetes” que originam rupturas e novos caminhos. Em 1517, o monge alemão Martin Luther deu origem à 1ª corrente do Protestantismo, ao rebelar-se contra a “venda papal das indulgências”. Em 1917 teve lugar na Rússia a chamada “revolução de Outubro”, que levou à tomada do poder pelos comunistas (ou “bolcheviques”), comandados por Vladimir Ilitch Ulianov, dito “Lénine” (i.e., o homem do rio Lena, na Sibéria). A grande maioria da direcção inicial dos bolcheviques era de origem judaica. Porém, desde 1924, com a morte de Lénine e a ascenção do georgiano Stáline, quase todos esses dirigentes (Trotski, Zinoviev, Kamenev, Sverdlov, Kaganovitch, Babel, etc.) foram executados, sobretudo nas “purgas” dos anos 30. O carácter “judaico” da Revolução de 1917 foi tal, que o ainda novo Winston Churchill, pensava tratar-se de uma verdadeira revolução judaica. É que, durante o czarismo, os judeus russos ( que só estavam dentro das fronteiras do Império desde há apenas 2 séculos) eram altamente discriminados. Mas, numa sociedade largamente iletrada, a proporção de judeus (ou “jides”) nos liceus, universidades e nas profissões liberais russas era infinitamente superior à da minoria que representavam.
  2. As origens da Maçonaria). A Maçonaria moderna (dita “especulativa”, i. e. reflexiva, pensante) terá nascido na Grã-Bretanha, ainda no séc. XVII. Não que certos ramos, mais misteriosos e obscuros (p. ex., as sobrevivências templárias e cátaras) não tivessem existido noutros pontos. É curioso que a chegada dos 1os judeus (sobretudo ibéricos, “sefarditas”) a Inglaterra, donde haviam sido expulsos em 1280 pelo rei Eduardo I, deve ter estado na origem do movimento. Curioso também que é nessa época que se desenvolve na Escócia a produção do entorpecente “whisky”. Foi Cromwell quem, com demasiada boa fé, abriu as portas aos israelitas; porém a aceitação destes pela sociedade britânica foi muito difícil e gradual.
  3. As velhas lojas (meramente profissionais) da Maçonaria Operativa). A Idade Média foi um longo período dominado pelo pensamento único inspirado apenas na Religião Cristã. Pouco favorável a dúvidas legítimas, à discussão, à liberdade de opinião, a investigações científicas. A Geometria e a Matemática, tão cultivadas na Antiguidade, só sobreviveram porque transmitidas por estrangeiros (árabes e judeus) que continuaram a cultivar esses saberes. Porém, quando a Igreja fazia as catedrais, precisava de recorrer a esses profissionais das ciências exactas. E foi-lhes permitida a associação em guildas ou corporações, estritamente profissionais. Eram verdadeiras ilhas (da técnica) no vasto oceano da ignorância geral. Usavam símbolos e sinais para se distinguirem dos estranhos. Séculos depois (início do séc. XVII?), estas “lojas” passaram aos poucos a incluir pessoas de fora, que se foram gradualmente infiltrando. Com frequência, eram não-conformistas culturais e religiosos de vário jaez. E entre eles, os “netos de Abraão e de Jacob”, sempre muito rápidos a perceber onde está o furo e a nadar em águas turvas (é a sabedoria do Talmude…). Na Grã-Bretanha dos sempre pios, formais e leais representantes daquela notável variedade celto-germânica, os “trabalhos” dos infiltrados foram como “fogo na palha”. As novas lojas “especulativas” (leia-se, “políticas”) multiplicaram-se. E chega o ano de 1717, no reino do saudoso Jorge I de Hannover.
  4. Uma noite de Fevereiro em Londres, 1717). Foi na zona de Covent Garden (na Apple Tree Tavern) que teve lugar a reunião secreta pela qual foram fundidas as 4 lojas de Londres. Entre os presentes, o exilado protestante francês dr. Desaguilliers, físico de nomeada e pregador; também presente o pastor escocês James Anderson, fervoroso anti-católico; e o conhecido antiquário Georges Payne. No dia de S. João desse ano ficou constituída a Grande Loja de Londres (ou dos “moderns”), a qual passou a exigir completa obediência a todas as Lojas anteriores ou futuras. Embora filosoficamente idênticas, a Loja de York (Cavaco Silva estudou aqui) e outras poucas, não aderiram (são os Livres e Aceites, ou “ancients”). Logo em 1722, o citado Anderson publica os famosos “Estatutos”, peça fundamental da história maçónica. O movimento espalha-se e os ingleses fundam lojas em França, nos futuros EUA, em Espanha, Portugal, América do Sul, etc.
  5. O “segredo” e a captação de filiados ilustres). Embora altamente revolucionária, a Maçonaria especulativa sempre procurou o ingresso de figuras influentes, que neste mundo de vaidades logo ajudassem à sua gradual progressão e triunfo. Na Inglaterra, os grão-mestres (às vezes só de fachada) cedo passaram a ser recrutados na nobreza. A Ordem tinha 33 graus mas a esmagadora maioria não passa dos três 1os. A obediência e o “segredo” são garantidos por sentenças de morte, aplicadas com frequência. A progressão na sociedade absolutista francesa foi igualmente recrutando gente ilustre.
  6. As excomunhões papais e as descolonizações nas Américas). A partir de 1738, com a bula In Eminenti, de Clemente XII, quase todos os papas excomungaram quem pertencesse à Maçonaria. É hoje consensual que a Maçonaria organizou a Revolução Francesa de 1789, e que activamente “aliviou” Inglaterra, Espanha e Portugal de todas as suas colónias nas duas Américas. P. ex., D. Pedro IV deu independência ao Brasil (7-9-1822) 3 meses depois de se tornar mação. Washington, Franklin, Miranda, Bolívar, San Martín, Belgrano, O' Higgins, o p.e Hidalgo, Iturbide, etc., todos eram mações. Cruzar o que reza a História oficial com o que se aprende nos livros (muitos) que há, sobre a Maçonaria, é fascinante. Podemos voltar ao assunto num próximo trabalho.

Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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28 novembro 2017