Descanso e férias são dois termos que se aproximam, mas não significam a mesma coisa. Neste mês de Julho, muito cidadão se encontra no gozo da sua pausa laboral – férias –, o que não significa que esteja em verdadeiro descanso. Há quem, habituado às exigências da vida profissional, não saiba aproveitar estes dias para repousar devidamente.
Pelo contrário, é capaz de sair do seu meio ambiente normal e dedicar-se a um trabalho que deseja realizar, definitivamente, nesta época estival. Tanto se ocupa e tanto se preocupa com ele, que acaba estafado e regressa às suas obrigações profissionais com um alento pouco vigoroso ou mesmo negativo.
Claro que descansar não é não fazer nada. Ou, pura e simplesmente, passar as horas sem um programa de ocupação. O fastio surge, então, como uma espécie de enfermidade que nos atordoa e nos deixa desanimados. Não digo que queiramos encurtar o tempo de férias, mas encaramo-lo como uma realidade desagradável e monótona. Talvez até nos sintamos mais fatigados, porque com tantas horas sem saber como as ocupar, não só nos aborrecemos, como também nos descobrimos confusos e quase com o desejo de voltar à vida normal.
Aqui, porém, tomamos consciência de que há alguma coisa que não está a funcionar como devia. Afinal, sou possuidor de um tempo de repouso e sinto-me mais cansado do que se tivesse um aperto de serviço nos meus dias normais de trabalho. A ansiedade pode surgir como uma companheira malquista e desagradável. Sinto um desânimo e um nervosismo crescentes, tenho dificuldade de saber o que se passa dentro de mim e começo a irritar-me com qualquer contratempo inusitado, ou quando alguém com quem convivo habitualmente me chama a atenção para qualquer ninharia de que me esqueci.
Enfim, é preciso encarar as férias como uma realidade que necessita de preparação, não só para ocupar com discernimento o que elas são e me proporcionam, mas também para não me surpreenderem com tempos de ocupações diferentes, onde a preguiça e a imprevisão podem tomar conta de mim e desnortearem-me de tal maneira, que eu não descanse de verdade e me sinta confuso com tudo e com todos, espalhando à minha volta um ambiente desagradável.
Um amigo, de nome José Alberto, contava-me que uma sua vizinha, pessoa simpática, afável e de convivência assídua e delicada, ao regressar no ano passado de um período quinzenal de férias no Algarve, lhe confidenciava, a respeito do seu marido: “Estava insuportável... Resmungava por tudo e em tudo. Impeticava comigo constantemente… Voltou para o seu trabalho e já tem um comportamento normal, graças a Deus!”
Dois dias depois, o marido da referida vizinha, encontrou-se com esse meu amigo e confidenciou-lhe: “A Joana (a sua mulher) nas férias é muito “chata”! Está sempre a protestar e a encontrar defeitos em mim. Felizmente, já estamos os dois a trabalhar e a calma voltou lá a casa...”
Alguns tempos mais tarde, visitando eu o José Alberto, disse-me que os seus vizinhos tinham estado na noite anterior em sua casa, numa conversa amistosa. Mas ele, com certa malícia, perguntou-lhes: “Então, as férias algarvias foram boas...?” Não responderam directamente. Apenas observou o marido, coadjuvado pela sua esposa: “Sabe, já voltámos à vida normal... E tudo está a correr bem...”
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva