Luxemburgo acolheu a Virgem Peregrina durante 18 dias, percorrendo todos os recantos do “pequeno e nobre Ducado” de dia e parte da noite sempre com milhares de fervorosos e amantes de Nossa Senhora de Fátima que, na década de 40, já tinha impregnado a Sua Mensagem no coração dos povos, praticamente, de todo o mundo.
A Imagem foi recebida, na fronteira, pelo Prelado que foi ao Seu encontro com passos lentos e com o apoio da bengala que usava devido à sua dificuldade de locomoção, num estado fragilizado e quase inválido, mas não quis faltar, querendo agradecer e saudar a Senhora com simples palavras, não se cansando de Lhe dizer: «obrigado, obrigado, obrigado.» Com este gesto, comoveu a multidão presente, despertando, ainda mais, a fé e o amor a Nossa Senhora.
Foram momentos, segundo o relator da peregrinação, Cónego Carlos de Azevedo, inesquecíveis pelo encanto e da beleza dos locais por onde se passava, mas, sobretudo, pelos ambientes, pela simbiose de cânticos, de orações, de gestos e de tantas outras exteriorizações de fé e de entrega àquele símbolo repleto de sobrenaturalidade. Num dos distritos do Norte, na altura, com cerca de “18.000 habitantes, 15.000 tomaram parte das procissões”. Vejam a grandeza destes atos carregados de uma força que se pode chamar de Divinal pela atmosfera rodeada e impregnada de um ar oxigenado com a brisa celestial.
Havia cidades desertas, tudo fechado para as gentes locais poderem deslocar-se ao encontro da Senhora. Passou-se, por exemplo, em Troisvierges, o nome o indica (três virgens), em que toda a população se ausentou para estar perto da Imagem Peregrina de Portugal, carregada de simbolismo que parecia divinizar todos os locais por onde passava. Deus revelava-se e, com certeza, ainda se revela naquela Imagem e noutras tão prodigiosas da Cova da Iria.
Tudo era surpreendente com missas à meia-noite com os recintos e Igrejas apinhadas de gente; foram contabilizadas mais de 100.000 Comunhões numa população, na altura, de pouco mais de duzentos e cinquenta mil habitantes, incluindo as crianças e os não católicos, mas um dos momentos mais dignos de relevo foi quando a peregrinação passava pela margem do Our, um pequeno rio que limita Luxemburgo da Alemanha, avistando-se na outra margem milhares de alemães acompanhando a procissão, a rezar, a cantar e com as mãos voltadas para a outra margem bendizendo e louvando a Virgem Maria, suplicando-Lhe: «Virgem da Fátima, vinde até nós.»
Na despedida, na fronteira, lá estava novamente o prelado quase sem forças, abatido, mas entusiasmado por estar junto da Imagem que percorreu e que trouxe a interiorização da mensagem revelada aos pastorinhos às gentes Luxemburguesas. Entre uma enorme comoção dos peregrinos, o Prelado exclamou: «Tu vais, mas a Tua boa lembrança fica entre o nosso povo. Guarda também na Tua boa lembrança este povo que tanto Te quer. Até à volta, ó Mãe e Rainha! Fica com as Tuas graças! Até à vista, se não neste mundo, ao menos no Céu!
O navio-motor “Ribeira Grande” da Companhia Carregadores Açorianos, “acabado de construir na Holanda”, transportou a Imagem de Nossa Senhora de Fátima desde Antuérpia até à doca de Leixões, chegando no dia 2 de março de 1948, sendo recebida, como não podia deixar de ser, com muito entusiasmo pelas gentes do Porto, “Ínclita cidade da Virgem,” vindo ao Seu encontro inúmeras embarcações de Matosinhos engalanadas, saudando-A “com silvos estridentes”, enquanto a Imagem saía do navio-motor aos ombros do Comandante e Oficiais.
O Presidente da Câmara, Dr. Luís de Pina, saudou, à porta do Município a Virgem Peregrina que voltou ao Seu país, passando pelas terras portuenses, pedindo e bendizendo: «E mil vezes bendita sejais Senhora de Fátima e mil vezes obrigado por teres salvado Portugal do sangue, das dores e das lágrimas da guerra que dessangrou tanto o mundo. Ave-Maria cheia de graça, Mater Admirabilis!
Regressou à Cova da Iria a “Veneranda Imagem” para, logo a seguir, percorrer outros continentes.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História…
Autor: Salvador de Sousa