Anunciação, a 25 de março; Dormição, a 15 de agosto (há quem defenda que Nossa Senhora faleceu, foi sepultada, ressuscitou e foi elevada ao Céu); Natividade, a 8 de setembro…” A definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu
foi no ano de 1950 pelo Papa Pio XII. A Igreja Ortodoxa, que presta um culto muito enraizado a Nossa Senhora, nos primeiros catorze dias de agosto, faz o jejum da dormição da Santa Mãe de Deus.
Há factos da História de Portugal, por coincidência ou não, que estão ligados à festa da Assunção. Destaco já, em Coimbra, D. Sancho I
foi armado cavaleiro, pelo seu pai D. Afonso Henriques, no dia 15 de agosto de 1170 (in die dormicionis sancte marie)… Este 2.º monarca da 1.ª dinastia seguiu as pisadas do seu pai. Em 1210, estando enfermo, no Mosteiro de Alcobaça, dirigiu uma carta aos seus vassalos nestes termos: «– Rogo-vos que, como amigos, rezeis por mim ao Senhor, à Bem-aventurada Virgem Maria e ao Mártir S. Vicente, para que me deem a saúde do corpo e da alma.» Não foi por acaso que as Infantas, suas filhas, Teresa (não confundir com Santa Teresa do Menino Jesus), Sancha e Mafalda, educadas num ambiente de fé e de devoção a Nossa Senhora, ingressaram na Ordem de Cister e foram elevadas às honras dos altares.
No início do século XIII, duas ordens religiosas, Franciscana e Dominicana, entraram em Portugal, ajudando a aprofundar, ainda mais, a devoção a Maria. Duas relevantes figuras da igreja contribuíram muito para isso pela sua grande entrega a Deus e à Virgem: Santo António nasceu no dia 15 de agosto de 1195, em Lisboa. Passou pelos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, mas, logo após a sua ordenação sacerdotal ingressou na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos).
Conta-se que na véspera da festa da Assunção, em 1225, teria ouvido as seguintes palavras de Nossa Senhora: «– Estai certo, meu filho, de que este corpo, que foi a Arca viva do Verbo encarnado, ficou isento da corrupção dos vermes; certificai-vos igualmente de que, ao terceiro dia, foi transportado pelos anjos para a direita do Filho de Deus, onde reina.» S. Frei Gil que em Espanha, a caminho da Universidade de Paris para estudar medicina, foi convencido a renegar a fé católica, mas logo se converteu, milagrosamente, ingressando na Ordem de S. Domingos, vivendo no convento de Santarém e sempre devoto da Virgem Maria.
A festa de Nossa Senhora da Conceição foi mais uma pérola que no século XIV se juntou a tantas outras, embora o mistério da Conceição e o dia 8 de dezembro já fosse lembrado, sobretudo em Inglaterra, mas, segundo D. Rodrigo da Cunha, não seria por acaso que
D. Afonso Henriques fez uma doação aos cónegos da Sé de Lisboa no dia 8 de dezembro de 1149. Muitos cruzados ingleses, bispos e outros clérigos ficaram em Lisboa, após a sua conquista, sendo provável que se empenhassem em introduzir na mente dos portugueses o culto deste grande mistério. Os Franciscanos, no capítulo geral de Pisa, em 1263, aprovaram a celebração da festa da Conceição de Maria no dia 8 de dezembro de cada ano em todos os seus conventos, inclusivamente nesta terra de Santa Maria.
Em Portugal, a instituição desta festa data de 17 de outubro de 1320 “Constituição do bispo de Coimbra D. Raimundo Evrard.” Logo a seguir, o bispo de Lamego, D. Rodrigo Peres, que tinha sido o D. Prior da Colegiada de Guimarães, introduziu esta festa na igreja de Santa Maria da cidade, compensando os cónegos da colegiada com algumas doações. O cónego da Sé de Lisboa, João Escola, mandou celebrar a festa da Conceição no dia 8 de dezembro, dando, para o efeito, 20 libras.
Fátima congrega, atualmente, todas essas manifestações de fé, que temos estado a recordar e que continuaremos durante mais algum tempo, neste ano do centenário das Aparições de Nossa Senhora.
Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra; realização e propriedade de Augusto Dias Arnaut e Gabriel Ferreira Marques, editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953.
Autor: Salvador de Sousa