A minha crónica anterior já foi, parte dela, baseada nesta grandiosa obra sobre o Mistério de Fátima, achando, por bem, transmitir aos leitores do Diário do Minho, aquilo que vou colhendo nesta magnífica edição que tem a participação de pessoas reconhecidas do Clero e do mundo das Letras.
A Virgem, Mãe de Deus, sempre andou nos corações da humanidade. Santa Maria, invocação inicial, ainda hoje, da Ladainha de Nossa Senhora, era, sobretudo na Idade Média, uma expressão que constantemente palpitava nos lábios dos crentes para exteriorizarem sentimentos de surpresa, de alegria, de súplica, de angústia (Santa Maria, vale ou vale-nos!). Muitos escritores/
/poetas, músicos inspiravam-se (e hoje, felizmente, muitos também se inspiram!) em Maria com as Cantigas de Santa Maria e livros intitulados “Horas de Santa Maria. Tantas igrejas, festas e terras dedicadas a Santa Maria que desde esse tempo, tão remoto, se conservam por todos os cantos do mundo. Uma rica herança que as gerações, ao longo do tempo, obtiveram e mantiveram viva.
Desde os primeiros tempos da nacionalidade, os portugueses incrementaram na sua mente e no seu espírito, neste cantinho “ à beira mar plantado,” o amor e a grande entrega a Maria, tendo como exemplo os nossos reis e a herança de todo o espaço peninsular e não só… orgulhando-se “o velho solar lusitano por ser conhecido por Terra de Santa Maria.” Os portugueses, ao longo das descobertas, levaram o nome de Santa Maria desde “os sertões do Brasil às ilhas do Extremo Oriente.” Por todo o lado, ainda hoje, há vestígios de toda essa evangelização. Relata a obra que: “entre os vestígios da nossa evangelização no século XVI, os missionários modernos encontraram, ao entrar no Japão, duas palavras que ainda se diziam em português: Santa Maria!”
A devoção à Virgem Santíssima foi interiorizada na Península Ibérica, sobretudo, pelos primeiros evangelistas, discípulos que calcorrearam estas terras que nos rodeiam. Conta-se que, por exemplo, S. Tiago Maior quando se encontrava a rezar (desanimado) nas margens do Ebro, pois permaneceu bastante tempo em Saragoça, teve uma aparição de Nossa Senhora, ainda cá na terra, 2 de janeiro, anos 40 d.C. (fenómeno denominado bilocação), pedindo-lhe que, naquele local, lhe mandasse construir um altar, sendo logo cumprido com a ajuda de outros discípulos, dando origem à atual Catedral/Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. Segundo esta fonte, que me apraz ler, conta-se, também, que S. Tiago ao passar pela terra que hoje se denomina de Guimarães, com uma riqueza histórica incalculável, teria presenciado um santuário pagão dedicado à deusa Ceres. Tudo fez, de imediato, para o retirar do culto idolátrico, erguendo, logo a seguir, um altar com a imagem da Virgem (Senhora da Oliveira). Esta imagem sofreu várias deslocações devido às invasões bárbaras, mas com a conversão dos Suevos voltou ao mesmo local. Só, no século X, a Condessa Mumadona, com uma fé inabalável em Maria, colocou a imagem no mosteiro que ela própria mandou construir e com fortes ligações ao Castelo de Guimarães. No século XII foi fundada a colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, muito famosa. D. João I vem agradecer à Virgem as graças concedidas na batalha de Aljubarrota, fazendo doações, mandando requalificar a Igreja. Uma colegiada são honras (dignidades) instituídas num templo semelhantes ao cabido de uma Sé Catedral.
Tudo o que foi referido, leva-nos a afirmar, convictamente, que toda a nossa devoção a Maria começou a ser irradiada, em grande medida, com os primeiros discípulos do Evangelho que, por terras ibéricas e não só, propagaram a fé cristã.
Portugal, desde a sua origem, foi sempre o “Altar do Mundo”, o fermento da fé, levando o nome de Deus e de Sua Mãe a tantos recantos da terra. Iluminou muitos povos e, hoje, são os reflexos desse passado que convergem num local, Cova da Iria/Fátima, escolhido por Nossa Senhora, onde se dá um fenómeno inverso, confluindo de todos esses locais do mundo devotos, peregrinos de Nossa Senhora de Fátima que a todo o momento se deslocam ao nosso Portugal, avivando a sua fé.
Autor: Salvador de Sousa